domingo, 12 de julho de 2015

A Cultura do Papel

A Cultura do Papel mais um link onde consta textos de minha autoria.

China Cursos

Outro Blog meu onde consta alguns textos.

 China Cursos
China Imperial

Link onde consta um texto meu sobre o Rito do Calendário.

MONOCROMIA CERÃMICA E SIMBOLISMO NA CHINA

TEXTO DE RICARDO JOPPERT



MONOCROMIA CERÃMICA E SIMBOLISMO NA CHINA

'' O CELADON É A BASE DA PORCELANA. A PARTIR DELE DESENVOLVERAM-SE OS DEMAIS
GENEROS.TODOS OS TIPOS DE PORCELANA BASEARAM-SE NO CELADON.OS PROTO-CELADONS
DATAM DO SÉCULO XIV ANTES DE NOSSA ERA-DINASTIA SHANG-YIN.



Equipe do Museu de Cantão(Guangzhou).Reunião com Ricardo Joppert,1979.




'' O SÍmbolo'',escreveu Gilbert Durand,''é a epifania de um mistério''.O termo vem-nos do grego-SUMBOLON-conjunto de duas metades(SIGNO:metade concreta e SIGNIFICADO: metade evocativa de algo de inexprimível. Em seu papel de significado pode haver extensão a toda espécie de qualidades(não-figurativas) que às vezes

levam mesmo à antinomia.O símbolo é pois ''flexível'" e ''repete incessantemente o ato epifânico",segundo também Durand.O que se pretende no presente ensaio é su-
gerir o papel da cerâmica(gres) monocrômica chinesa- principalmente da época Song(960-1279) e da Tradição que se estabeleceu-como símbolo,concretamente,mas também como evocação do alto Pensamento chinês-em sua dimensão holística,em seu sentido cósmico e cosmológico,sua visão orgânica dos princípios da vida. Pois,para os chineses,tudo no mundo transcorre num contexto
organicamente fechado(um mundo cerrado,mas sobre o Absoluto):cada órgão pertence ao Grande  Órgão,mas é também o Grande Órgão em si mesmo,porque,dentro do micro órgão,o funcionamento é inteira projeção do Macro órgão e o Macro órgão só  funciona porque cada micro órgão
age como Macro órgão .Existem apenas universos que  são projeções do Universo,uma multiplicação ad infinitum da Criação,à maneira de ""facetas de um mesmo prisma permanentemente irradiante"(Joppert,R.:"O Samâdhi do Verde-Azul" pg,26 e Cheng,F.:"l"Ecriture Poétique Chinose")
Isso leva-nos aos temas do reflexo e do espelho.Por si só um espelho apenas reflete.Mostra uma imagem,mas não na incorpora.Apenas reflete passivamente sem ônus para si próprio.Sua quietude(jing) nada sofre.Assim deveria ser o espírito sensível(xin-aquele que responde às coisas) do homem:não deixar-se afetar pelo mundo exterior (wai) ,conservando sua natureza intrínseca e essencial (xing)  sempre pura (qing) .Por isso ensina o taoísmo  do Zhuangzi(séc.4 a .n.e.-cap.7):"...o
 Homem Perfeito usa(yong) de seu espírito sensível como de um espelho:não rastreia as coisas,nem nas acolhe;responde às coisas sem nas reter:é  o que o torna capaz de encarregar-se de todas as coisas sem que elas o  prejudiquem.



Certos momentos da História,da saga humana sobre a Terra,veiculam um simbolismo em que ao Caminho da Visão (em sânscrito,  no contexto do budismo, darsanamarga) se alia o Caminho da Realização(bhâvanamarga).Assim foi a dinastia Song,dividida em dois períodos(960-1126/7 e 1127-1279) em consequência de conquista da região ao norte do rio Yangzi por bárbaros(em ll26/7).Época de sublime apogeu de Civilização,embora a China estivesse militarmente fraca
Mas tudo n contexto Song expressava um simbolismo holístico,majestoso,cósmico mesmo,Na cerimônia do chá,por exemplo,depois tão enraizada no Japão,via o IMPERADOR  Song HUIZONG(1082-1135)..."uma frugalidade,uma simplicidade que se baseava na busca de aperfeiçoamento interior,de crença nos valores da Civilização (apesar da ameaça real dos bárbaros que ocupavam a periferia da  área nuclear da  China).O  fato permanece que o perído Song consubstanciava um estado de espírito,que era espelho de cristalina paz interior.Os chineses distinguem dois tipos de quietude,em virtude de sua visão de um mundo binário(Yin-Yang):
Ning:quietude que se segue a uma expansão da vida manifesta;JING:: repouso das coisas na volta ao indiferençado.Latência. Quietude antes dafase imediatamente anterior ao movimento,na alternância latência-manifestação.Assim,repouso antes do reinício,antes da renovação cíclica na alternância entre virtualidade e atualização da vida em sua manifestação;
ZHENJING:trata-se do estado de concentração em quietude-"em alerta"-em que poderá entretanto ser pressentida a incitação do movimento Yang,de prenúncio de ação.
Latência de traço futuro...Uma explosão que virá à tona.
Pois num sistema absolutamente organicista,não há divisão entre estados:Yin e Yang são aspectos de uma mesma Realidade,a que se conhece sob  denominação de DAO(TAO):CURSO(absoluto),no qual as individualidades (efêmeras,mutatórias e temporárias) são apenas percursos(dao)...
Poder-se-ia ver na arte cerâmica monocrômica    do  período Song e de tradição Song, prolongada até nossos dias,um dos "espelhos" desta Quietude aquém e além do tumulto do mundo.Quietude aliada a uma Elegância de Viver que os chineses definem pelo binômio JING YA:"ELEGÂNCIA NA TRANQUILIDADE",espelho do Espírito sensível (xin) pacificado,em que os percursos individuais (dao) se confundem com o Grande Curso (DAO) que lhes dá origem:"... por HOMEM VERDADEIRO entende-se aquele cuja natureza (xing) se mescla ao Dao (Absoluto)...",diz também o Huainanzi,escrito há mais de dois mil anos.Homem que,absorto no cuidado de seu interior,ignora o que lhe é exterior...considera iluminada a SIMPLICIDADE prímordial ... volta ao Tronco Original (Pu);abraçando o Espírito sutil (Shen) vagueia (you)  nos limites do Céu e da Terra...
Tecnicamente a cerâmica monocrômica porcelanosa dos Song recebe o nome de gres.Trata-se de produtos de pasta opaca,com estrutura vitrificada, cujas moléculas se soldaram por efeito do cozimento. Um dos tipos é conhecido,no Ocidente,por CELADON,nome derivado da coloração esverdeada das vestimentas de um pastor,personagem da peça francesa "L"Astrée",do século 17,quando as primeiras peças chegaram à Europa.Em chinês diz-se Qingci: cerâmica ressonante da cor qing,de gama cromática complexa,que vai do cinza esbranquiçado ao azul da abóboda celeste,concentrando-se em "nuances" do verde-azul e resultante das condições de cozimento:a base do verniz é o óxido de ferro:num cozimento dito "em redução de oxigênio",os tons finais tendem ao verde-azul; com presença de oxigênio no forno,haverá oxidação e a cor irá para as gamas de verde oliva ou cinzento ( grosso modo). "Mais que uma cor,Qing é uma manifestação tonal da Natureza:como o céu,que se mostra cinzento no inverno,azul ao sol de verão e se funde ao mar verde no horizonte longínquo,também qing descreve,valendo-se da porcelana,todo um ciclo de vida universal traduzido em variações tonais..."
Xunzi,filósofo do terceiro século antes de nossa era,deixou-nos assim a definição clássica da cor qing:"...capta-se o qing no azul,mas ele age mais(como cor) do que o próprio azul (qing,qu zhi yu lan,er qing yu  lan)...Xunzi desejou significar que qing é ASPECTO DINÂMICO do azul(lan),submetido ao processo ativo das mutações no mundo dos fenômenos. Graficamente o ideograma para qing representa uma associação de idéias (huiyi),composta de dois Elementos:CINABRE(DAN) que simboliza,pela cor vermelha ,o sangue e VIDA(SHENG),o que representaria "o animal destinado a um  sacrifício feito para abrir o ciclo anual da PRIMAVERA.
Desse modo,qing não simboliza primordialmente a cor verde-azul,mas a manifestação de vida operante na Natureza por força de um ritual  em que havia o  sacrifício de um animal. Esse rito destinava-se  a desencadear o processo da germinação das plantas: ato de criação,de procriação.Verde dinâmico.Vida renascente. Daí o seu dinamismo,como cor:o verde das florestas,o azul do éter atmosférico...

O corpo de tais objetos compunha-se de uma mistura de argila branca e de argila avermelhada,que contém ferro e dava à pasta uma coloração mais escura;nos locais não-cobertos por verniz,após o cozimento,surgia um  tom vermelho,necessário para,em união com o verniz,dar aos céladons características especiais de animação.O verniz,por sua vez,contém cal Alcalinado (feldspático); misturado a cinza de madeira e argila;o resultado é uma superfície viscosa,relativamente
espessa (0.5-2.00mm), que, após um cozimento a alta temperatura,deixou miríades de minúsculas bolhas;ao lado de partículas de quartzo  não-dissolvido no cozimento,permitem a difusão da luz e dão aos céladons um lustre evocativo do jade.A  textura do verniz,por tais apuros técnicos,é raras vezes brilhante.Denso e opalescente em muitos casos,absorve a luz e irradia-a.O lustre, misterioso, profundo, parece aflorar do interior do verniz.Essa textura define-se,em chinês,pelo termo  ZI ou
ZIRUN.        
Dir-se-ia que a cor está incorporada ao corpo:vinda das profundezas,prolonga-se na superfície na textura que se define pelo ter ZI ou Zirun: a "aparência velutínea da terra coberta de grama".O ideograma ZI,usado para caracterizar a textura do grés Song é pois resultado da união de " água" e "vegetação abundante ou "esteira"(aquilo que cobre a terra) e traduz e idéia de "estender-se à maneira de uma superfície líquida",crescer,propagar:trata-se assim de uma multiplicação de vida num meio fervilhante de seiva,em ambiente totalmente criativo e dinâmico,onde a água(Yin) não cessa de possibilitar explosões positivas de Yang(cf.KARLGREN, Grammata Serica Recensa,entrada 966,b,d).O termo ZI aparece frequentemente combinado com RUN-ZIRUN-para enfatizar o sentido de "riqueza ao olhar e ao tato" da vitrificação Song.RUN (molhar,umidificar,untuosidade)compõe-se do radical "água" e do elemento que significa o "mês intercalar" do ano lunar chinês.Esse mês segue-se ao terceiro do verão e corresponde ao ponto cardeal "centro"(os chineses têm cinco pontos cardeais:Norte,Sul,Leste,Oeste e Centro) e ao elemento "terra"(Yin).Trata-se de uma espécie de interestação do ano,na qual "a terra recebe as sementes para dar as colheitas,a umidade (run) penetra nas profundezas e torna-se salgada"(cf. Shujing "Anais da China",cap.Hong Fan-"a Grande Regra").Run-mês intercalar-é  composto de  "Rei",sob"porta".Nesse mês o Soberano morava no aposento central de um palácio (sugerido pelo elemento "porta") em forma de quadrilátero (Ming Tang-o Palácio da Luz Total)que imitava o ciclo das estações e destinava-se a que o Governante, intermediário entre as Ordens Natural e Humana,acompanhasse durante todo o ano o rítmo vital do macrocosmo,duplo do microcosmo.Nesse mês intermediário o Rei ocupava-se em observar o ciclo dos astros em torno da Viga Celeste (a Ursa Maior),

II SEMIOLOGIA IMANENTISTA DO PENSAMENTO AS NOÇÕES BÁSICAS DE LI E WEN

O Pensamento chinês caracteriza-se fundamentalmente  pela semiologia imanentista,manifesta pelas   noções básicas de LI e WEN:trata-se assim de um sistema que valoriza os sinais(do grego "semeion"-signo;"sena"-marca) a nível cósmico,universal.O cosmo fala através de não importa qual de suas partes(teoria do Princípio homeômero,segundo a qual todas as partes são semelhantes-as partes últimas da matéria são homogêneas-proposta por Anaxágoras,na Grécia, nos séculos VI  e V antes de nossa era. Mas,para os chineses,existe uma Razão das Coisas(LI),Princípio de Organização,"ao mesmo tempo cósmico,social e moral" (Demiéville). Para o pensador Zhang Zai (1020-1077),Li seria um "poder de organização inerente às duas formas de energia universal(QI:O Sopro Vital Infinito)- imanentes ao mundo,eternas:Yin(princípio receptivo,passivo,estado de repouso,equiparado ao modo feminino de ser,cujo símbolo é a Lua) eYang(princípio ativo,movi-
mento,iniciativa,equiparado à maneira masculina de agir,cujo símbolo é o Sol).Para a China,Yin e Yang são opostos complementares(não-conflitantes) que intrinsecamente tecem a vida.

Etimologicamente o ideograma LI compõe-se do radical ou da raiz "Yu"(jade) e da parte fonética "Li'(circunscrição rural caracterizada por campos repartidos segundo uma ordem racional,no centro dos quais era simbolizado o altar do deus do solo).O jade,pedra(mineral)dura,basicamente esbranquiçada,mas que podia ter "nuances" esverdeadas e apresenta veios que inevitavelmente devem ser seguidos para que a pedra possa ser convenientemente esculpida(noção de ordem interna que rege a trama venosa -"zhuo":polir,"diao":esculpir são ideogramas correlatos que também trazem o radical de "jade".Assim trata-se de uma estrutura que aflora do interior para as realidades do mundo. Nicole Vandier-NICOLAS,grande sinóloga do século XX,dizia que Li é "esplendor de forma que é resplendor de substância". Nunca,em momento algum,pode assim o funcionanento estar separado da
algum,o exercício funcional se separa da constituição interna:o jade é inseparável dos veios que ligam o âmago à superfície...
Em virtude dessa Razão inerente,orgânica,imanente,as coisas e os seres manifestam-se através de características próprias,a que chamam os chineses de WEN,"princípio segundo o qual as realidades do mundo encarnam a constância de sua função"(F.Jullien:"La Valeur Allusive").Por exemplo,a linha rósea no horizonte, no momento da aurora(cosmo-morfologia),as zebruras e estrias dos animais,as marcas únicas deixadas por bípedes e quadrúpedes no solo,as configurações celestes as cadeias montanhosas,as veias ee artérias nos corpos,e os filetes deslizantes de transpiração,únicos para cada corpo..."Motivos inscritos no tecido mesmo das coisas à origem de todos os sistemas de sentidos"(V.Chtchetkina e A.Rocher in "Journal Asiatique" 2009,n.2).
Semiologia imanentista:universo inconcebível sem Ordem,eis a mente chinesa no âmago,presente em meio a toda transformação,apesar de qualquer aparente revolução.O dicionário etimológico Shuowen Jiezi("Teoria das Grafias Primitivas e Explicações das Grafias Derivadas")(século II) define Wen como a seguir:"imbricação de linhas,representando uma figuração de entrelaçamento"(cuohua ye,xiang jiao wen).Assim Wen resulta sempre de uma interrelação,como o próprio movimento que
dá origem a toda Vida e de que a fecundação-lato sensu-seria o paradigma.

TIPOLOGIA DO QINGCI(CELADONS-LATO SENSU-NO OCIDENTE) SONG E DE TRADIÇÃO SONG

Alguns grés Song são tradicionalmente classificados de acordo com o local de fabricação;outros levam nomes descritivos do verniz.Temos assim os seguintes grupos,em cuja vitrificação,lembre-se,está sempre presente óxido de ferro como elemento atuante na determinação de uma tonalidade final(cf. supra) dentro da gama cromática abrangida por Qing.Recorde-se que Xunzi,em sua definição clássica,afirmou que se capta o Qing no azul,mas que Qing "age mais (como cor)do que o
próprio azul".O termo atua assim como substantivo e como verbo.Polivalência.Valor holístico

Tipos predominantes na dinastia Song do Norte(960-1126/7-antes da invasão tártara):
-RUYAO
-CELADON DO NORTE(subtipos de Yaozhou,Linru,Dongyao )
-JUNYAO(essencialmente monocromático,mas a adição de gotículas de óxido de cobre ao líquido do verniz causa manchas abstratas violáceas)  D inastia Song do Sul(1127-1279
-NANGUANYAO(Guan meridional)
-LONGQUANYAO-120 fornos na atual região de Zhejiang.


TRADIÇÃO,LINEARIDADE,CONTINUIDADE ATRAVÉS DE MODICAÇÕES(BIAN);
TONG:CONTINUIDADE ESTRURAL(dentro da evolução)

A organicidade do Pensamento chinês teve como uma das consequências,na Arte,a "Cultura do Antigo".A Sub-stância (Ti) permanece.A modificação dá-se a nível de exercício funcional(Yong).

Pois a mutação não impede a evolução.Como vimos,o Pensamento da China prega basicamente uma polaridade "que contém nela o princípio,e a necessidade, de uma evolução,e a forma desse devenir vê-se determinada não em função de uma ordem exterior imutável mas a partir de si Mesmo (...) assim, no quadro constitutivo do real(...)encontra-se já implicado seu curso,cuja lógica lhe é inerente...(F.Jullien:"Figures de l'Immanence"pg.242)"E continua...duas noções servem para conceber(...)um novo par   que desdobra no tempo a relação de oposição complementar que constitui a estrutura do real: de um lado,a " modificação"(bian),que é  'o tornar-se outro'...de outro lado,a "continuidade"(tong),que é o desdobramento do outro enquanto o mesmo..."
Porisso,Nicole Vandier -Nicolas,em sua profunda compreensão do holismo básico do pensar chinês,costumava dizer,em seu curso no Institut d'Art et Archéologie",em Paris,que para a China,não se deveria jamais falar de ''revolução",e sempre,de "renovação".Pois na China a mutação é sempre a nível de ''exercício funcional"(yong);nunca de ''substância primeira"(ti).

Uma pedra(tecnicamente silicato de cal e magnésia) fascinou os chineses desde os albores da  cultura,mais tarde solidificada em Civilização: o  jade(yu).E não sem razão.Além de sua beleza natural,da magia de seu toque,da sua sutileza de cor e textura,o presente autor pode cientificamente comprovar,em experiência conduzida em Paris,em 1994,por um processo dito de "eletrografia" e realizada pela Elypse Engineering,que o jade é catalizador de energia.Assim viram-no os chineses como intermediário ideal para a união cósmica,que,para eles consubstancia a espiritualidade,uma vez que,a nível da evolução da Consciência,não há,na China,espírito religioso,mas imanência cósmica. A plena maturidade de Consciência foi obviamente resultado de um processo,mas forçoso é reconhecer que o gérmen sempre esteve lá,na mentalidade da China.A comprovação é a perenidade de uma Civilização sempre renascida.A Cultura de Hongshan floresceu há cerca de oito milênios,na região do rio Liao, ocupada hoje pela Mongólia interior do sudeste,pelo Hebei nordeste,por Liaoning e Jilin,hoje Manchúria.Eram,na época,regiões agrícolas,que pouco a pouco se  desertificaram parcialmente,tornando-se apropriadas ao pastoreio nômade,empobrecedor de cultura.Tratava-se de objetos rituais,dentre os quais sobressai o primeiro Dragão chinês,em dois modelos.
Após a criação da cerâmica porosa,pintada,não-ressoante,tão característica do neolítico no contexto global da humanidade,ocorreu aos chineses evoluir para
um produto que pudesse ser imagem do jade ,tão simbólico.Para isso era necessário revestir a cerâmica friável de um esmalte que pudesse suportar altas
temperaturas e resultasse num tom verde-azul almejado.A descoberta foi uma base feldaspática para o corpo dos objetos e um esmalte que contivesse óxido
de ferro,que se torna verde-azulado em cozimento a alta temperatura.Estava criado o proto-céladon,há cerca de três mil e quinhentos anos.
A Tradição desse tipo de porcelana manteve-se,mas admitiu modificações(bian) que justamente,pelo insuflar de idéias renovadoras permitiu a
continuação estrutural(tong).Lendas misturaram-se à realidade factual,advindo o mito,essa "concha sonora de uma idéia"(Henri Grenier).No século X,o
Imperador Chai Shizong teria recebido de ceramistas a indagação sobre que coloração preferia para as porcelanas destinadas ao palácio.Shizong teria res-
pondido:a do'' azul celeste que se mostra,através de uma fresta nas nuvens,após a chuva"(yu tian qing yun po chu). O "azul-celeste" a que se teria referido
Shizong não correponde provavelmente a qualquer verdade histórica,mas o mito permaneceu e toda a inteira Tradição posterior referente ao céladon sempre
insistiu nessa tonalidade como a ideal para essa produção cerâmica.Tianqing-''azul celeste''-é uma expressão que denota o espírito sutil do letrado chinês
em busca da "Elegância de tom e textura(ya)característica de seu modo de viver,de sua maneira de existir fora da mediocridade do Século.Tian Qing-"azul celeste" seria uma
nuance paricular,extrema na gama cromática de Qing-"verde-azul"-que,como vimos,poderia englobar uma série mais generalizada de tonalidades.
No século XII,o Imperador Song Huizong ordenou a manufatura,para uso palaciano,de uma porcelana(grés,na verdade) de acordo com suas especi-
ficações.Outra vez foi o mito do Céladon Chai que foi a inspiração. Para atender ao desejo do Imperador desenvolveu-se um tipo especial de grés-que se
conhece pela denominação de RUYAO-e cujos fornos de produção foram,em novembro de 1986,localizados na vila de Qingliangsi,perto da cidade de
Daying,no distrito de Baofeng,província de Henan
O Ruyao é uma cerãmica de pasta amarelada,bem-composta,de grãos finos,embora macia e tendo uma ressonãncia apenas surda.A vitrificação

apresenta-se em diversas tonalidades do verde-azul,conhecidas como "azul celeste"(tianqing),"verde-azul claro"(ovo de pato:luanqing),"esverdeado pálido"(fen qing).
Esse verniz é opaco e suave ao tato,lembrando a consistencia da clara de ovo.Os chineses atribuem seus requintes`à adição de ágata (manao) pulverificada
ao líquido do verniz.O Ruyao foi somente manufaturado de 1107 a 1126,para uso imperial,o que o torna extremamente raro:no mundo de hoje sobrevive uma
centena de peças.Mas o Ruyao foi um marco no percurso da grande Tradição da porcelana.Em 1126/7 hordas bárbaras(proto-manchus-djurchèt) invadiram a
China setentrional,levando o Imperador Huizong,bem como cerca de três mil membros de sua Corte,como prisioneiros,
para a Manchúria,onde o Monarca veio
a falecer,em lamentáveis condições,em1135.As imensas coleções imperais de Arte,de valor inestimável,foram saqueadas pelos bárbaros e quase dispersas,
em sua totalidade.A perda foi uma calamidade.Para a China.Para a humanidade.O que o futuro perdeu não tem substituto.
Um filho do Imperador entretanto conseguiu escapar para o Sul.Gradualmente conseguiu restalecer a dinastia dos Song,fixando sua Capital na ci-
dade de Hangzhou,na atual região de Zhejiang.No campo da Arte da cerâmica/porcelana/grés o modelo seguiu os ideais do Ruyao do Imperador Huizong:.
Nos fornos de Xiuneisi(no interior do Palácio mesmo)e da Colina da Fênix(Fenghuang)-conhecidos pela denominação de Laohudong-''Caverna do Tigre"-ma-
nufaturou-se um esplêndido tipo de céladon(qingci)que transmitiu a Tradição do Norte.Conhecem-se hoje como  Guanyao-Cerâmica Imperial-repartidos nos
subtipos de Xiuneisi e  jiaotanxia("Sob o Altar ").Este "Céladon Imperial do Período Song do Sul"-Nanguanyao- mostra-se com corpo muito delgado,pasta escura
(o tipo "xiuneisi "teria pasta clara),,recoberto de verniz de tons que vão do azul pálido acinzentado ao marron-cinza pálido passando pelas nuances
do verde,com linhas de craquelê mais ou menos separadas umas das outras.Um outro subtipo,conhecido como ''GE'',seria um produto  mais tardio dos fornos de
Laohudong(séc.XIV).Sua coloração tende para o amarronzado(pela presença de oxigênio,no forno,no momento  do cozimento;o craquelê tem linhas muito pró-
ximas umas das outras.Aliás,diga-se que as linhas do craquelê evocam o desenho de pinças de carangueijo(xiezha).Essa foi uma tendência que já começara
com o Ruyao,mas acentuou-se no Sul.
Imaginava-se,a até algum tempo atrás,que o Ruyao tinha sido criado por pura inspiração e sugestão do Imperador Song Huizong.Era o que levava
a crer o espírito sutil do preclaro Monarca.No entanto a pesquisa contemporânea veio provar que o refinamento dos céladons,no Norte da China,já existia
desde o século X,antes portanto do apogeu do Ruyao,no século XII,sob Huizong.Um grupo de objetos oriundos dos fornos de Huangbao,em Yaozhou,no
Shaanxi,recentemente localizados,já mostram corpo de pasta branca
muito purificada, recoberta  de verniz v erde azulado ou verde acinzentado, de grande rebuscamento,
comparáveis ao céladon de melhor qualidade da época.Tais objetos representam elos na cadeia da Tradição dos céladons que os ligam aos primórdios do
século XIV antes de nossa era (proto-céladons da fase Yin da dinastia Shang)e os projetam mesmo até nossos dias."(...)a manufatura do Ru imperial da dinas-
tia Song do Norte(960-1127) procurou esse tom azul alusivo,assim como o fizeram os melhores céladons Guan e Longquan do período Song do Sul(1127-1279)"
,
(cf.Kerr,Rose:''Subtle Hues and Delicate Forms:Yaozhou Wares of the 10th Century",in "Orientations",fev.2010)
Nicole Vandier-Nicolas assim expressou-se sobre a perseverança da Tradição na China:"só podem entrar na lenda ou na História os homens que incarnam
uma das idéias de sua raça e contribuem assim à perenidade de uma tradição(...)o que é ou parece estranho à natureza íntima de um grupo humano é fugidio e
insignificante(...)o ciclo vital é fechado sobre si próprio e uma civilização se destinaria á morte se negligenciasse dobrar-se por instinto à 'matriz materna' para alimentar-se de sua própria essência(...)
A FORMA DOS CELADONS


Pureza de forma foi o ideal Song.Procurou-se o arredondamento,a diluição de ângulos muito rígidos ,a fim de que o concreto se confundisse com o
etéreo,imagem de uma Essência-protótipo.As nuances de cor e a textura almejavam harmonizar-se de tal maneira à luminosidade ambiente que o espectador
chegasse a não  distinguir o objeto-matéria do Princípio-Origem.Jogo de luz que não fixasse a forma,difusão de luz que a transformasse segundo o ângulo
de visão,imaterialidade
que libertassse o objeto de arte do estaticismo~eis algumas características que buscava\ a forma Song.Diluir uma forma precisa,através da arte de luz e tex-
tura,é torná-la mais próxima do universal:o pensamento pode então abandonar acircunstância efêmera e estruturar sua ação no sentido de afastar a aparência
ilusória e discernir o resplendor da cen;telha do Absoluto(shencai)presente na obra de arte.Porque,na Estética chinesa,a Imagem   simbólica(xiang) revela fundamen-
talmente"o que é revelado,quando as coisas foram libertadas de sua camada exterior"(Sturman,Peter).Na Arte Song,quando,à imaterialidade da forma,se associa
a função do objeto(um incensário,por exemplo,onde a  fumaça dos bastonetes perfumados vai ainda mais dissolver o concreto);é mais fácil então sentir a integralidade
do Poder Vital(SHENQUAN).Pode ocorrer uma "identificação silenciosa''(moqi) entre o espectador e a obra de arte  que elimina a oposição sujeito-objeto.
Uma noção da Estética chinesa define a fusão do amante da Arte com a obra-prima:Bin-Zhu-o Visitante e o Dono da Casa.O Visitante (Bin)é,no plano
estético,o  mundo concreto das formas aparentes;o Dono da Casa(Zhu) é o Absoluto("o único real num universo de aspectos"-Nicole Vandier Nicolas).Ambos,
amante da Arte e obra de Arte,são apenas presenças temporárias(visitas);entretanto,a centelha do Infinito neles existente torna-os também Donos da Casa,isto é,
eles igualmente participam da natureza absoluta do Dao''(... todas as coisas,firmes no seio do Dao(...)significam o Invisível,mas só existem em relação a Ele(...
 num tal sistema de representação,todo objeto é símbolo do Absoluto;o objeto sugere sem entregá-lo(...)"um ponto de referência(para o pensamento) e
o conduz(...)à intuição da Essência única(...)-Nicole Vandier-Nicolas"j



JUNYAO
O Junyao são explosões do mundo manifesto;ao mesmo tempo,é seu aspecto indiferençado,caos fervilhante de virtualidade,onde está imerso  tudo
o que espera para existir.Hobson,um dos primeiros especialistas ocidentais em porcelana chinesa,escreveu que,no Junyao,"sob o cinza,parece sempre esta-
rem o azul e o vermelho,batalhando para atingir a superfície(...)mas é vermelho que quase sempre triunfa,emergindo em magníficas estrias de violeta,púr-
pura e coral,como as linhas coloridas da seda mesclada,ou em manchas fortes e salpicadas,c ompletamente vencendo o cinza,que permanece apenas agoni-
zante em poucas nuvens lanosas(...)" Estreitamente ligado ao  Ruyao,o Junyao é um tipo de cerâmica dura,às vezes semi-porcelanosa,cujos objetos têm um
corpo branco-acinzentado ou amarelado e são cobertos de uma vitrificação densa e opalescente em vários tons de azul e também,de verde.Nesse verniz há
frequentemente áreas irregulares(ban) de violeta ou vermelho-cinábrio(zhusha),causadas pela mistura de gotículas de óxido de cobre ao líquido da vitrificação
;esse,derivado de fosfato de ferro,elemento que caracteriza o tipo céladon que conhecemos no Ocidente.




"Ban",que não aparece necessariamente no Junyao,dá entretanto a essa categoria cerâmica um sentido de criatividade
 que a situa num domínio um pouco diverso dos outros Song,pois engendra,dentro da vitrificação qing(verde-azul),uma série de metamorfoses das quais o ceramista
foi apenas o primeiro agente,uma vez que não poderia prever a forma abstrata que as gotículas de óxido de cobre,derramadas no líquido do verniz,iriam gerar
na fase de cozimento,quando se difundiriam na superfície da peça.Tais manchas de óxido de cobre constituem assim o toque espontâneo(ziran) que tornam o
Junyao um universo em miniatura:o global da superfície qing(verde-azul) mostra,sob o símbolo da cor,a Realidade virtual (cuja Imagem simbólica é o éter
azul),fervilhante de possibilidades,porque está antes de qualquer condensação energética que exprima essa Energia através de uma forma particular.As manchas
(ban)representariam-assim nos seria facultado imaginar-em termos tonais,criações espontâneas,condensações de energia(qi).  
"O Yin e o Yang são grandes  e força(...)agem um sobre o outro(...)nuvens transformam-se em chuva e chuva,em nuvens"diz-nos o Zhuangzi.Em criação
(na verdade,emergência,advento)espontânea,nasce a vida,porque uma metamorfose ocorre:a partícula de óxido de cobre,em interrelação com o ferro,no verniz,
adensa-se numa nuance mais intensa de cor e forma uma zona tonal diferente,uma pincelada violeta ou vermelha no qing (verde-)azul,lá deixada aleatoriamente
pela mão do artista,que apenas desencadeou o início de um processo:o resultado final vem da própria química de elementos combinados-em harmonia(he)-

são as Mutações do Forno(yaobian).É a imagem da ação do Dao:o Homem,o ceramista,governou-se pela Terra;a Terra,pelo Céu;o Céu,pelo Dao,e o Dao,pelo Es-
pontâneo(ren fa di;di fa tian;tian fa Dao,Dao fa ziran-Laozi,cap.25).

A fonte principal de produção do Junyao localizava-se nos fornos de Junzhou(antes,Juntai),na região de Yuxian,a sudoeste de Bianliang(hoje Kaifeng),a
Capital Song do Norte,e igualmente em Linru,ambos na província de Henan.O ancestral do Junyao foi um tipo de cerâmica dura recoberta de vitrificação escura
na qual escorrem manchas nebulosas de branco e azul-lavanda.O grupo é  hoje conhecido como Tang-Jun(Jun da dinastia Tang) e foi fabricado,entre outros sítios,
em Huangdao,Henan,nas proximidades dos fornos do posterior Junyao dos Song.
No que diz respeito à pasta do corpo,o Junyao de melhor qualidade passava por dois cozimentos:o primeiro era realizado em biscuit,sem qualquer ver-
niz,a uma temperatura relativamente baixa.Em seguida era a peça revestida de várias camadas de verniz e ia ao forno,para um segundo cozimento a temperatura
alta.Existem entretanto peças menos elaboradas,presumivelmente secas ao sol e levadas a cozer uma só vez,já recobertas de verniz.
O Junyao reveste-se do a que se chama de ''verniz de cinza''(ashglaze),"pois foi possível isolar fitólitos na estrutura da vitrificação e que sobrevivem
sob a forma de corpúsculos opalescentes"(Margaret Medley:"The Chinese Potter"pg.1a18)Fitólitos são concreções minerais que se formam em vegetais;no caso
do Junyao,trata-se de sílica nas células de  muitas plantas.A presença de sílica explicar-se-ia pelo adicionamento,ao líquido da vitrificação,de cinza de talos da planta
do arroz,cujos fitólitos não foram destruídos em virtude de a tmperatura do forno não ter sido por demais elevada. Permanecem em suspensão,no verniz,em pequeninas
bolhas,miríades de pequenos pontos que briham como diamantes,se expostos à luz e dão ao Junyao o belo efeito de opalescência.
Por outro lado,James C.Y.Watt,do Metropolitan Museum de Nova York,formulou a teoria de que os efeitos coloristas do Junyao"(...)evocariam as névoas
violáceas ou púrpura vistas pelos taoístas como emanações que acompanhavam o aparecimento de Imortais(...)",segundo lendas consignadas na literatura chinesa
(por exemplo,no Guanyinzi,obra taoísta antiga,cujo original já teria sido perdido no século III antes   de nossa era,mas da qual possuímos versão posterior.
A idéia das metamorfoses a que tudo,no mundo manifesto,está submetido(e que evocam as manchas abstratas no verniz do Junyao) é uma das constantes
do Pensamento chinês e pode ser retraçada há cerca de três milênios,no decorrer da dinastia Shang(motivo da cigarra,na arte do bronze).O Junyao teria evocações do fervilh
ar cósmico mesmo...
No Brasil existe uma taça célebre do tipo Junyao do século XII(antigas coleções de Michel Calmann e de Nicole Vandier-Nicolas;hoje na coleção
deste autor-cf. "Anais do Museu Histórico Nacional"vol.31,l999).
Já na cultura neolítica de Liangzhu,há cerca de cinco mil anos,certos especialistas atuais(Teng Shu-p'ing,do National Palace Museum,Taipei)vêm em
jades esculpidos evidência de um culto shamanístico centralizado na crença da possibilidade de ''mútua transformação"entre os componentes de uma trindade
composta de uma divindade ancestral(shen-zu) e de um animal(dongwu),a que chamou de (metamorfose)"zoo-progenito-deística"(cf.National Palace Museum
Bulletin,v.XXVI,n.l e 2-l99l),representada por um ícone em  que uma máscara animal é encimada pela figura de um xamã de cabeça recoberta de um cocar de  penas.
A máscara animal teria sido a forma primitiva do motivo principal da arte do bronze dois mil anos mais tarde(dinastia Shang-Yin(circa1600-1050 a.n.e.):essa
máscara,bipartida,traria o delineamento da figura ancestral entre suas duas partes.O motivo teria servido a elaborado ritual,de fundo xamânico e crença na
incorporação de espíritos ancestrais:shen qi-"cerimônia espiritual"-teria sido a manifestação da unidade dos elementos da Trindade "numa só Substância"
san wei yi ti he yi) .Nos bronzes da dinastia Shang-Yin esse ícone transformista coloca-se sobre um fundo de espirais,a que chamamos atualmente de

"leiwen"(wen-"símbolo-imagem figurativa-do trovão").Mas sabemos que a espiral tem sido símbolo  universal do Infinito.Desenvolve-se centripetamente,
mas retorna centrifugamente de volta ao ponto inicial:"mutata eadem resurgo"-mudada volto a ser a mesma.As metamorfoses não abandonam nunca o
núcleo primitivo.E motivo também frequente é a cigarra-suas trasformações biológicas enquadram-se igualmente nessa crença.
Recentemente a especialista Elisabeth Childs-Johnson,em suas pesquisas sobre o xamanismo,analisando um ideograma chinês em particular-
yi-frequentes nas inscrições gravadas sobre os bronzes da época-identificou-o ao ritualismo da incorporação de espíritos ancestrais pelo Rei-xamã máximo
na antiga China. Ao usar a máscara acima mencionada,o Soberano sofria uma metamorfose no espírito de seu Ancestral,o que achamos ser a mensagem do
motivo da arte do  bronze a que nos referimos.
Pouco a  pouco foi a consciência religiosa chinesa diluindo-se em consciência ritual,talvez em virtude do modo de pensar ,
 da cultura que se consolidava em Civilização madura

(Wenhua(cultura="mutações de wen":isto é,das figuras simbólicas da coerência
interna das realidades do mundo;wenming:Civilização-"Claridade Total de Wen":estágio de maturidade


 de wenhua,simples cultura,ainda sujeita ao pro-
cesso evolutivo).

Segundo Léon Vandermeersch a transformação da consciência religiosa em consciência ritualística,humanística,teria ocorrido há cerca de tres mil anos,
na transição dinástica dos Shang-Yin aos Zhou.O sinólogo francês cita o "Registro dos Ritos"(Liji)(quan 9) como fonte de referência:
"Os Yin honravam os espíritos e governaram pelo culto,deixando os ritos em segundo plano;os Zhou honravam os ritos,dando maior atenção ao bem-
agir;observaram o culto dos defuntos,veneraram os espíritos,mas com um sentimento de reserva''.
Esclarece ainda Vandermeersch:"(...) a advinhação(...)uma vez que se torna independente do sacrifício ,pode aplicar-se diretamente(a outros) aconte-
cimentos(...)da sistematização das formas litúrgicas propriamente dita;a especulação ritual transbordou (finalmente) para todas as formas de ação em geral,
para todas as formas do movimento do conjunto dos seres do universo,integrados numa vasta Liturgia Cósmica(...)o estiolamento da consciência religiosa na
China arcaica reconhece-se pois por dois sinais:a ausência do espírito de prece e a ausência de teologia(...)"



No campo da Arte,a consequência progressiva foi a abertura dos horizontes da iconografia temática:sem mais precisar ater-se à iconografia religiosa
específica,com representação de estereótipos de deuses,divindades ou entidades espirituais de traços formalmente pré-estabelecidos,a vocação estética pôde
passar do concreto ao abstrato,da objetividade à subjetividade do momento de inspiraçâo(xing="exaltação poética"livre,para o "vôo do espírito"-shen fei).
Aos temas de representação de forma "standard"(ditada por exigências iconográficas),seguiu-se o percurso (dao) da estilização ,das manchas abs-
tratas,das nuances coloristas como veículo expressionista puro.
Duas noções da Estética ilustram a mudança da consciência religiosa em consciência ritual cósmica:shenzhu -(artista) "assistido por uma divindade"-
e rushen-(artista)"que penetra o Espírito Sutil(universal)".A primeira estava em voga até o século VIII,quando,por exemplo,Zhu Jingxuan declarou que,em seu
momento de  inspiração,o grande pintor Wu Daozi,era "assistido por um deus"(shenzhu).Já durante o apogeu civilizatório Song,o "connaisseur" pintor-calígrafo

Mi Fu(1051-1107) falava de rushen-"penetrar o Espírito Sutil"-para explicar a explosão da inspiração.De um lado,ainda admitia-se a transcendência: uma
entidade exterior à consciência humana vinha servir de apoio ao artista;de outro,era dentro (nei) do processo cósmico imanente a toda Vida que tudo ocorria.
Nada de  externo à mente do artista:tudo passava-se em circuito fechado,no fôro íntimo,num aprofundamento da Imanência.
Os grandes Mestres da Cerimônia do Chá (Chado),no Japão,herdeira do ritual chinês Song-de que foi êmulo o Imperador Huizong-escreveu
Soêtsu Yanagi("O Artesão Desconhecido"),sempre insistiram no fator espontâneo (ziran-"aquilo que vem de si mesmo tal qual") no processo de produção da
cerâmica que consubstanciava os utensílos dessa cerimônia.Realmente,como veremos mais tarde,era graças ao artesão anônimo,inculto(mas sábio através
de uma Tradição milenar de Vida,sempre persistindo,sem quebra,ao nível do real da mente pura) que advinham,emergiam,as  obras-primas da arte cerâmica
chinesa."É impossível,escreveu Yanagi,acreditar que (os ceramistas coreannos)possuíssem consciência intelectual(...)era precisamente porque não eram
intelectuais que foram cpazes de produzir a beleza natural(...)as tijelas  não eram resultado de esforço consciente do indivíduo(...)a beleza nelas vem da graça
(...)" Yanagi tomou a cerâmica coreana como protótipo,por era a favorita dos Mestres do Chá.:o ritual chinês era garantia de humanismo,de relacionamento
social dentro do conceito de Elegância (ya) .Era parte dessa Liturgia Cósmica a que se referiu Vandermeersch,que regia a vida dos letrados chineses.
Rushen-"penetrar o Espírito Sutil (cósmico),imanente a um Processo visto como auto-suficiente, auto-gerador.
O Junyao é microcosmo,espelho de macrocosmo.Numa superfície azul-celeste tênues linha de um craquelê em forma de Y-e às vezes com canaletos
a que os chineses chamam de tusiwen(marcas do cipó-chumbo-cuscuta)-simbolizariam a virtualidade da vida,imersa no éter;áreas irregulares (ban) de violeta
ou vermelho-cinábrio(causadas por gotículas de óxido de cobre derramadas no líquido da vitrificação,antes do cozimento) expressariam a condensação do

Sopro Vital (qi) para criar vida manifesta:manchas (ban) abstratas-porque a vida é inesperada e pode tudo ser...Fervilhamento pré-cósmico,em paridade
(bing)com a afirmação do momento efêmero da atualidade eventual:tudo  está ali...
LITURGIA CÓSMICA

O laicismo da sociedade chinesa arcaica,decorrente do definhamento da consciência religiosa em consequência da autonomia
adquirida pelas práticas advinhatórias impediu qualquer fundamentalismo,tão comum no monoteísmo do Oriente Próximo e em seu herdeiro,o Cristi\anismo
do Ocidente. Os embates que debilitam os impulsos civilizatórios,na  China,nunca foram pois de fundo religioso,mas político.Especificamente,na China
antiga,o confronto esteve sempre presente,causado pelo nomadismo da áreas limítrofes(pobres,militarmente fortes ,os bárbaros cobiçavam as riquezas da Área Nuclear
(Zhong Yuan) agrícola da confluência dos rios Amarelo,Wei e Fen).A História mostra-nos que hunos,tibetanos,qidan(kitan-proto-mongóis?),proto-manchus
(djurchèt) e manchus sempre invadiram militarmente a´Área Nuclear nos momentos mais débeis da China.Suas incursões sempre foram perniciosas,mas o
Espírito chinês,poderoso no âmago,sempre sobreviveu-a duras penas...
Em 1126/7 um povo de proto-mandchus,os djurchèt,que vivia no atual território da província de Liaoning(China do nordeste),antigos vassalos dos
kitan,
conquistou militarmente a China setentrional.O Imperador Huizong,que abdicara para um filho inexperiente,Qinzong,foi aprisionado,juntamente com esse último
e cerca de três mil membros de sua Corte.Os tesouros da Capital,Bianliang(atual Kaifeng)foram pilhados.A Corte ,as coleções imperiais de Arte,tudo foi transfe-
rido para as regiões bárbaras do Nordeste...Catástrofe irreparável,de que a Civlização da Chuna nunca se recuperou.O Imperador faleceu-em condições miseráveis,
e sempre em cativeiro,em 1135.
Mas o Espírito chinês é indomável,inconquistável.O sentido holístico de seu Pensamento-a Realidade vista como um Processo de Ordem (Li) em que

há sempre Renovação através da inversão de situações,como o preconiza,por exemplo o hexagrama 24 do Yijing ("Livro das Mutações")(o "Retorno"-Fu)-sempre
foi Raiz (ben) na psique dos chineses. Para a China,portanto,a noção de Eternidade é...a de eterna mutação...O ''Retorno" (Fu) representa,segundo também o
Yijing,o"coração da realidade''(tiandi zhi xin).
Um filho do Imperador Huizong,conhecido depois pelo título póstumo de Gaozong,consegue reerguer a Nação chinesa da geena estabelecida.Os
Song refugiam-se além do rio Yangzi(acontecimento da "Travessia para o Sul"-nandu) e fixam a Capital(provisória)em
 Hangzhou(Lin"an).Um tratado de paz com os djurchèt foi assinado em 1138.Os Song reestruturam-se,em tudo                  


procurando os moldes do apogeu  de Huizong: o reconhecimento do Processo organicista da Vida,da Grande Imanência de tudo,foi a Chave de um Poder que
se sobrepôs à força militar bárbara.Consciência que vence a pura ignorância.
No domínio da grande Arte cerâmica procurou-se também continuar o padrão da era Huizong.O céladon Ruyao,de etéreo verde-azul,sutil,inegualável,sabe-se
hoje,havia tido certas analogias(talvez mesmo fora seu antecedente)com o tipo fabricado em Yaozhou Shaanxi,no século X:um céladon de corpo branco,refinado,recoberto
de verniz verde azulado ou verde acinzentado,comparável com os melhores produos da Coréia ou da região d Yue,na atual província meridional de Zhejiang(cf.
Kerr,Rose:"Subtle Hues and Delicate Forms:Yaozhou Wares of the 10th Century"-in "Arts of Asia",jan.fev.2010).
-
Durante o Renascimento dinástico,na China do Sul,estabeleceram-se dois fornos,hoje identificados em Laohudong("Caverna do Tigre),na "Colina do Fênix"-
Fenghuang-dentro do recinto do Palácio Song.Produziram os tipos tradionalmente conhecidos como Nanguanyao ("Cerâmica Oficial-Guan-Meridional")-subtipos de
Xiuneisi-do"Departamento de Manutenção dos Edifícios Imperiais"-e de Jiaotanxia-"Sob o Altar Suburbano(do Céu)"(suas localizações de origem).
  E,na região atual do Zhejiang(antigo reino de Wu~Yue),os fornos de Longquan evoluiram para a produção de um sofisticado céladon cujo corpo possui "uma
claridade de forma apenas recoberta mas não obscurecida por um verniz suave,luminoso e misterioso",sgudo Basil Gray,um dos especialistas ingleses muito
entusiastas..
No Sul,a misteriosa maravilhosa (miao) técnica dos céladons verde-azuis(qingci) continuou a desenvolver-se.Toda a gama cromática da dinâmica cor
-instável,imprevisível como a própria vida-atingiu o apogeu.Forma e cor "como se existissem;como se não existissem"(ruo you,ruo wu),para tomar de empréstimo
uma frase de Tang Zhiqi(século XVI) sobre a pintura de letrados..
Arte "em curso",não definida em categoria de "ser ou não-ser alguma forma específica",mas em processo contínuo,em advento "entre"(F.Jullien)...
"Quão evanescente,quão difuso(...)no interior (do processo aboluto)estão todavia as coisas"(Laozi cap. 21)...(hu xi huang xi,qi zhong you wu)(Laozi cap.21)

Pois  a "Grande Imagem é desprovida de forma"(ib. cap 14)(ver vários livros de Jullien).
 Na pintura "vapores e nuvens são com frequência evocadas(...)ao banharem
as formas esboçadas(apenas) ou fundindo seus contornos delimitantes (no todo),os pintores (letrados) deixam as coisas evasivas e começam a apagá-las,abrindo
caminho para sua (próxima) ausência"(ib).O sentido holístico é assim sugerido.Nos céladons,são arestas que se arredondam,curvas que sugerem alongamentos;
cores não-definitivas-também fugidias-e brilhos que tendem ao opaco..."De-ontologia"...Total mobilidade dentro de mutações sempre evocadas.
Pois nada é definitivo(sabemos que também em sentido cósmico).A Arte chinesa assumiu assim a missão da inconstância.


O compromisso da Arte chinesa em ser imagem de uma Realidade sempre em transição tem sido bem compreendida por teóricos nos domínios da
pintura e da poética.Mas a verdade é que dentro do espírito holístico essa visão estende-se naturalmente a outros ca'mpos pouco abordados. No século XII
o Imperador Song Huizong,em Seu "Tratado Imperial do Chá"(Sheng Song Chalun-também conhecido como "Tratado do Chá da Era Daguan"(1107-1110),
escreveu ser compromisso dessa arte "romper -purificar-os bloqueios"(di zhì),no fito de atingir a  "Suprema Quietude"(zhi jing),a"Suprema Pureza"(zhi qing),


conduzindo à" Harmonia"(dao he).A Estética chinesa é assim um percurso(dao) espiritual.
Para a China,conformar-se(shun) à Grande Realidade,seguir o rítmo e o modelo da Vida é o bastante.Portanto toda sua Arte banha-se  numa

"atmosfera de indeterminação e de infinito"(Jullien).
A "Grande Imagem não tem forma(fixa,definida)"-ela é a Matriz de todas as imagens.A Grande Imagem contém em si todas as coerências invisíveis
que dão forma aos seres e às coisas,pois sua Capacidade (De ou Ling) é cósmica.A Imagem(xiang) é como as imagens(xiang)já manifestas(espontâneas,naturais)
que pendem (chui) dos céus",escreveu o Imperador Song Huizong em comentário ao Laozi. ''Aquilo de insondável nos movimentos do Yin e do Yang é o Shen
(Espírito Sutil)-Yin Yang bu ce wei Shen)",diz-nos o "Livro das Mutações"(Yijing-"Grande Apêndice",I,5).E escreveu Nicole Vandier-Nicolas:(...)o essencial,para
cada um,é descobrir,além do 'eu',a essência básica ,o Espontâneo,a Vida sem nome,sem fundo,sem forma.
Shen-o Espírito Sutil-é a forma de Energia que intervém nas combinações do Yin e do Yang na organização dos seres e das coisas e circula nos
corpos sem local específico.Os chineses dizem que "pousa nas formas e através delas desperta a emoção"(xi xing gan lei).O Espírito sensível(xin) comove-se
em resposta (ying):o processo estético completa-se pelo livre curso(chàng) do Espírito. E a expressão "shenhui" -"captar(reconhecer) o Shen"-define a quali-
dade do verdadeiro esteta.
Porque se Shen é o espírito de Vida, indeterminado,difuso,mas onipres
ente ,
é que,apenas "pousando"(xi) nas formas,não se manifesta por contorno
definido."Uma ave sagrada resplandescente,que apenas pousa ligeiramente na floresta (e logo vai-se)",escreveu Ni Zan,grande artista do século XIV.
Já se viu que os chineses descrevem metaforicamente a textura do verniz dos céladons,evocando um solo de gramíneas úmidas,uma "esteira" vivicante,
''untuosa,rica ao olhar e ao tato":zi ou zirun.Esse verniz denso,opalescente frequentemente,absorve a luz no corpo dos objetos e nele a difunde.Água e vegetação,
"estender-se à maneira de uma úbere superfície líquida",crescer,propagar...Processo de Vida...Trata-se de uma superfície que se não limita,de uma idéia que se
expande,de uma finidade que...se abre sobre o infinito...O próprio destino das peças desse tipo de cerâmica parece marcar esta vocação:o grés verde-azul inspi
rado pelo Imperador Song Huizong no século XII sobreviveu a seu trágico destino,transportando sua técnica-e sobretudo a idéia quue a sustentava-através das
eras...O autor deste ensaio viveu os percalços da vida chinesa no século XX.Em 1958,quando estava em Taipei,a pequena ilha de Kinmen(Quemói) recebia diaria-
mente intenso bombardeio do exército vermelho,a alguns quilômetros,na costa chinesa de Amoy:a vida,em Quemói,transferiu-se para os subterrâneos. Não
foi possível ao autor deslocar-se de Taipei a Quemoi.No ano 2000,ao retornar a Taiwan,já havia paz e foi possível atravessar o Estreito de Formosa,para a Que-
moi tão sonhada e heróica.Lá foi -lhe oferecido singelo incensário da época Song,recolhido de um junco naufragado,vítima dos furacões nas águas costeiras de Fujian.
Fora um pequena asa quebrada,o objeto está perfeito.Guarda-o como Testemunha:oito séculos de vida e sobrevida...
Já abordei minha interpretação da cor qing,que traduzimos,por simplificação,por "verde-azul",mas que abrange gama cromática bem mais vasta,indo


cinza-esbranquiçado até a azul da abóboda celeste(qing xiao) pelas transmutações do óxido de ferro do verniz nas diferentes condições no interior do forno
no momento de cozimento.É essa a explicação técnica. Mas poder-se-ia ver nessa indefinida tonalidade um eco do Pensamento chinês como um todo:o verde-
azul qing com sua gama seria o aspecto dinâmico do azul estático lan.Escreveu Xunzi,o "o qing capta-se no azul lan,mas age mais como cor do que o azul": qing passa
a ter a função de verbo-ação,pois. A cor torna-se uma
"roupagem":a que veste,em seu fluxo,a Essência da .Natureza.A técnica metamorfoseia-se em Poesia.

As craqueluras-pequenas fendas que se abrem no verniz em consequência do diferente coeficiente de dilatação e contraçáo da pasta e do verniz no
esfriamento após retirada do forno- poderiam se interpretadas como wen:coerência interna depois de um inter-relacionamento-pasta e verniz;conjunção entre
argila sólida e líquido que a recobre.Wen são justamente os traços(ji) resultantes de entrecruzamento de opostos complementares.Nos céladons tais linhas-
traços nunca são aleatórias:formam sempre uma teia cujo desenho evoca pinças de caranguejo (xiezhao),marcas naturais deixadas no solo pelo equlibrio
espontâneo de animais,sinfonia linear que as constelações deixaram nos céus em consequência do jogo de forças que as criaram...Zebruras cósmicas...
Diagramas,hexagramas mesmo,como no Yijing?DNA?

"É pelo encontro com o   concreto( asformas)que se vislumbra o Dao(Curso absoluto)",escreveu Wang Fuzhi,no século XVII(jí qi yu Dao).Num sistema orga-
nicista,holístico decidamente,abstém-se de tudo o que é exterior.Nem Deus,nem qualquer Mistério são necessários:a função natural(yong) do concreto permite
"ver"(jian),numa Lógica da Imanência,a Razão (li) de tudo o que se desvenda. "Jian",por seu grafismo,sugere  "mobilidade do olhar".

 Por isso diz o "Grande Aprendizado"(Da Xue),tornado Clássico do Pensamento de base,na China:
(...)"o ápice
do conhecimento está na investigação das Coisas concretas(zhì zhi zai ge wu"(...)(cap.V).É exaustivamente investigando a Razão específica de
cada manifestação (Li) que se atinge a Omnicompreensão(tong guan)...Como os veios,no jade,que levam ao entendimento da estrutura interna da pedra
(zhi) básico no simbologismo da China... Como na pintura(pois a Arte,na China,pelo fundo holístico do Pensamento,confunde todos os domínios-há co-partici-
pação),a cerâmica-principalmente o céladon-retorna à fonte dos "fenômenos-figurações"(xiang) "(...)da qual não cessam de vir o real,o traçado ,tudo o que se
atualiza enfim"(Jullien).Por sua vocação à diluição,ao etéreo,o céladon tende a evocar o virtual,mas,ao fazê-lo,faz advir a porcelana policrômica,domínio do
atual.O "não-advento"(wu) em paridade(bing) com o "evento"(you).


LONGQUANYAO(lung-ch'üan-grafia antiga)

Já  na dinastia Han(202 a.n.e.-220 n. e.) uma tecnologia relativa à fabricação de um tipo de céladon estava firmemente estabelecida na China central
(atual província de Zhejiang-reinos de Wu-Yue,na área do rio yangzi).Eram os fornos de Deqin,Jiuyan e Shaoxing,onde se produzia o chamado proto-céladon
Yue,fabricado ao torno,com corpo cinza-pálido,quase branco,que se tornava avermelhado ou amarronzado durante o cozimento,pela presença de óxido de ferro.
A partir de século VII já se pode falar de céladon Yue propriamente dito.Esse tipo de grés adquiriu gradualmente refinada elegância,tornando-se exclusivo
da Corte.No forno de Shanglinhu fabricou-se assim esse produto tornado de elite e usados na cerimônia do chá porque sua coloração esverdeada formava desejável
contraste com o avermelhado do chá. As taças de Yue tinham a cor do jade e sua tonalidade foi comparada,no século VIII,por Lu Yu,em seu "Livro(Clássico) do Chá"
(chajing),ao gelo(ru bing)que,em fina camada,mostra uma camada de musgo esverdeado por ele esmagada...Poetas escreveram estasiadas estrofes em louvor
ao céladon Yue,cujo tom verde-azul (qing) acabou tornando-se conhecido como "cor secreta"(bise),epíteto ainda mais justificado porque só os palácios podiam
utilizar o produto.
Sobre Longquan assim expressou-se Basil Gray,especialista inglês da primeira metade do século XX:(...)absorve luz em seu verniz profundo e misterioso,
através do qual as arestas da forma ou um ocasional relevo moldado se mostram diluídos(...)"E Shozo Uchiyama:"os céladons são a minha religião".
Pode-se classificá-los pelas nuances da cor:kinuta-"malho"(de aplainar papel de arroz;zhen,em chinês)-quando se trata de um etéreo verde-azul;tenryûji
quando o tom é verde levemente amarelado;sichikan,se o verniz aparecer verde aquoso,transparente...Peças célebres ditaram esses modelos-um kinuta da família
dos shogun Tokugawa;um tenryûji do templo do mesmo nome,em Kyoto:os sichikan devem a denominação a lendária peça trazida da China por um oficial de
sétimo  grau (sichi) ne época Ming.Um kinuta conservado no templo de Bishamon-dô,em Kyoto,recebe a poética denominação de"Dez Mil Sons"(Bansei) ...
Evocação de resonância? Sem dúvidas...O Japão tem um sentido inato da Beleza sutil;quem no  conhece sabe...
Um dos tesouros na coleção de Matsudaira Fumai,Lorde de Unshu,era um vaso tipo kinuta de Longquan,do século XIII.Matsudaira viveu no Japão do século
XVIII.Inimaginável verde-azul de um sonhar além dos sonhos...

  Mi Youren(1074-1153),filho de Mi Fu,um dos mais famosos pintores e connaisseurs da Arte chinesa e também pintor de escol,dizia que só os que
possuíssem o "Olhar da Sabedoria"(huiyan)-a "Terceira Visão"-poderiam apreciar suas obras.Dentro do espírito holístico da China clássica a afirmação poderia
igualmente aplicar-se aos céladons.Unicamente através da Terceira Visão seria assim possível,através dos grés Song,"participar do vaguear pelo Infinito azulado
do Vazio"(yu bi xu liao kuo liu tang)...
E por que não evocar,a propósito da cerâmica um pensamento de Jing Hao(séc.X) especificamente expresso sobre a pintura:
"(...)é preciso trazer à luz a fonte da figuração das coisas(...)"(xu ming wu zhi yuan)?
Relembrando F.Jullien,ainda sobre o pintar(mas,dentro do campo holístico,evocar-se-ia também o todo da Arte na China):
" (trata-se)de reproduzir,a partir da incitação do espírito esposando a emoção do mundo,este processo que,do fundo indiferençado(...)conduz
os seres e as coisas a desdobrarem-se,por diferenciação progressiva,até que nasçam suas formas naturais(...)lógica taoísta,não mais mimética(...)"
              Que o oleiro tenha sido anônimo e não um letrado,como era o pintor,não nos parece relevante,no contexto de uma Civilização unitária,onde o
inconsciente coletivo absorve conceitos de maneira natural,espontânea e de forma não-literária,dentro do
 modo de vida do povo.

No dizer de Shen Gua(1030-1098),um dos gênios da China clássica,a Arte (da pintura)sonda o invisível da Razão das coisas e a Criação advém
do manancial oculto ainda dos fenômenos (aoli mingzao).Não é o que os espíritos sensíveis vivenciam diante dos céladons?
´´

NANGUANYAO

CELADON IMPERIAL DO PERIODO SONG MERIDIONAL


A cosmovisão Song foi microlapidada.E "o guan é arte sem paralelo"(R.Joppert:"O Samâdhi do Verde-Azul").

Nele manifesta-se algo extremamente importante para o estudo da China,a nosso ver:a Lei da Integralidade (jun) estaria presente no inconsciente
coletivo dos chineses,procede de modo direto de uma experiência ancestral transmitida,sem quebra,às gerações e transpareceria comprovadamente,no que
diz respeito à arte dos céladons,na produção do oleiro anônimo responsável pela manufatura do tipo guan em especial(mas também nos grés de Longquan
e no tipo jun)desde o século XII até nossos dias(cf."O Samâdhi do Verde-Azul").
              Integralidade diz-se "jun",sinograma que é sinônimo de "igual","total","do(ao)mesmo nível",imparcial,igualizar,equilibrar,universal.Encaixe total.
Após a explosão inicial,a tendência do Universo foi estabilizar-se através de forças compensadoras.A mente chinesa guardou a Lei,em seu recôndito.
              O Yijing já diz que poder ser integral é a Obra do Sábio:"ele conhece universalmente (zhi zhou)as dez mil coisas"(xici,I,4):o conceito é essencial
p a coerênciaara a equivalência das artes no espírito holístico chinês.E continua o "Livro de Liezi",obra taoísta:"(...) a integralidade (jun) é Lei máxima(que manifesta)
a Razão(li-esplendor de forma que é resplendor mesmo da Sub-stância das coisas e dos seres)sobre a terra-por exemplo:a integralidade num fio de cabelo-
que se pendurem pesos num fio de cabelo e ele se rompa;terá sido o cabelo que se rompeu,não a lei do equilíbrio pois nada pode romper a Lei Integral(...)"
A fragmentação seria assim o  bloqueio da espontaneidade.Ainda o Liezi:"(...)quando o pensamento se não confunde,estabelece-se um 'fluxo
contínuo'(jun)que permitiria(por exemplo) "a um pescador aprisionar um peixe sem desconfiança ou resistência da presa":através da mente,o único movimento
é o da integralidade(jun) que se manifesta na mão(...)O pensamento (coração=xin,o espírito sensível,que entra em contacto com o mundo objetivo)deve manter-
se intocado,prístino,na"transparência da manhã"(zhao che).
" O mecanismo universal repete-se na mente(somos todos'poeira de estrelas',diz-nos a ciência moderna)e todas noções de equilíbrio(jun) existem
imanentes à pessoaTranscendência é imanência,resplendor em esplendor:tais são os leitmotive que convergem num só conceito,o da integralidade(jun).
Numa Civilização unitária holística,reconhece-se,no profundo da mente,que
o mesmo Princípio de Vida age fora do tempo e das circunstâncias:

para os chineses a Consciência é originalmente pura:são os hábitos(xi) que causam anomalias .

Diante de um torno(jun),imagem necessária do ajuste total(jun),o oleiro anônimo chinês,que,dursnte as gerações,só viveu no contexto de um
Pensamento da experiência vivida ao nível do real,deixa naturalmente que a mente impulsione o movimento de seus dedos,mente pura,aberta à própria luz,que se
projeta integralmente na criação,sem vícios,sem hesitações.E o que se projeta é a lei da Integralidade

Não há como imaginar perfeição,além do ru,do guan,do longquan e do jun:proporções,cores,textura- é compreensão do cosmo,de suas leis.Ming:
sol e lua agindo em conjunto:claridade:clari-evidência...
O guan(assim como os céladons ru,longquan e grés jun)representam arte sem paralelo. Nesses objetos-quando são o apogeu dos tipos-as craqueluras
(wen),consequência da conjunção de opostos-argila e verniz-manifestam o virtual da emergência,o estágio inicial do movimento,o início da manifestação
já regida pela coerência interna-LI(dong zhi duan,como o Yijing o revela no hexagrama 24(fu:o "Retorno"),acrescentando que a passagem do virtual ao atual corres-
de o "coração de Céu-Terra"-tian di zhi xin),o momento-espontâneo,mas decorrente de uma interrelação- em que do repouso se passa ao movimento(e essa
passagem permite captar o Dao,o Absoluto,o primeiro instante em que se desvenda:o Budismo do Vimalarkîrtinidersa declara que o "primeiro movimento da
Consciência-cittapûrvacarita" corresponde à "libertação dos Buddha mesmos"...
Wen-o craquelé presente-miríades de formas,entrelaçamentos,são as teias de aranha que tecem a vida.E no  entanto têm a mesma raiz,que as faz se
 ajustarem umas às  outras,em peças diferentes,produzida s em épocas diversas.Superpondo-se qualquer céladon guan (ou seus correlatos)  a outro,haverá coerencia
entre as linhas do craquelé:uma peça completará o desenho da outra,invariavelmente concretizando as linhas em forma de pinças de caranguejo (xiezhao),caracte-
rísticas do tipo.Esse fato espantoso é uma constante durante 800 anos e ocorre obsolutamente em todos os céladons de qualidade superior,mesmo que um deles
se apresente em tamanho natural e o outro na escala reduzida de  Suuma fotografia,por exemplo.Os veios do craquelé ajustam-se em diversas peças,sem diferença de
milímetro:não importa a forma,não importa  a época,as linhas mo stram a coerência de conjunto da vida do mundo.Um céladon Song(século XII) segue,visto sob
qualquer ângulo,o emaranhado das linhas de um célado Qing(século XVIII) e ambos encaixam-se totalmente num céladon fabricado hoje (fornada especial,fora
do mercado,produzida na China contemporânea em l965).As linhas da borda  de uma tijela entrosam-se nas da outra borda  e continuam na metade do corpo
de um objeto quadrado a ela posposto;as de um incensário  completam o desenho de um vaso ovóide fabricado séculos depois...Teias que consumam teias mas
não abandonam a trama do encaixe total das leis da organização  do cosmo.
Su Xun(1034-1101),grande letrado,pai de Su Shi(Su Dongpo) e de Su Che,esreveu,ao referir-se a wen:
"(...)o vento que sopra sobre a água e indica (o hexagrama 59)'huan '("dispersão")(no 'Livro das Mutações'Yijing)-esses(vento e água)são o apogeu de wen sob
céu-
eis a verdade,mas os dois elementos,como se procurariam para formar wen?Encontram-se sem premeditação;sem esperar,encontram-se e wen advém.Esse wen
não é só da água,nem só do vento.Cada um isoladamente não pode gerar wen,mas juntos não podem deixar de fazer advir wen.Wen advém de sua conjunção(...)"


O Museu Nacional do Palácio em Taipei refere-se à "beleza na simplicidade(pu su zhi mei)" das peças que conserva como:"(...) realizar todo o Bem através
auto apagar:andar em meio à simplicidade e à serenidade através do saborear infinito do que é profundo e distante-é por isso que é preciso reunir universalmente
toda o corpo do Maravilhoso (miao) sem deixar traços de esforço;poder exaurir todas as regras conservando o Maravilhoso que está além de regras,apagando mesmo
a Harmonia como noção para vivenciá-la de maneira apenas alusiva(...)"São a metáforas que condizem com a Coleção Imperial impusionada pelo grande Imperador
Huizong no século XII e transportada a Taiwan par fugir ao caos chinês da primeira metade do século XX.A cerâmica  deixa um vislumbre da "Luz Incubada"(Bao
Guang)preconizada pelo Taoísmo como fonte de  toda luz manifesta(Zhuangzi,cap.2)."Luz que traz escondida em si própria sua própria irradiação"(Nicole Vandier-
Nicolas).
Uma taça do tipo guan exposta no Museu Nacional de Tóquio,no Parque  Ueno,foi vista como tendo a forma de "duas mãos que se houvessem juntado
um mome
nto para formar o objeto e depois se separassem em lento movimento(...) a cor é indefinível(...)lembra variações musicais de um verde pálido,que do-

cemente aumente ou diminua de intensidade(...)
Tal apuro artístico não se explica só por  técnica:nada engendrado pelo intelecto poderia levar a um equilíbrio tão completo e universal.O craquelé,
por sua vez,é intrincado demais para adequar-se por força de vontade.Mas basta que a mente esteja perfeitamente livre-liberta-para mostrar sua plena capa-
cidade:eis a onipresença da Civilização da China,que é Vida em Substância(ti)."A Civilização chinesa é um processo não confinado por espaço-tempo,não está
nem mesmo confinado aos limites geográficos da China;não limitado por espaço-tempo,adapta-se todavia ao espaço-tempo-responde (ying)às necessidades das
circunstâncias e pertence na verdade ao contexto da evolução cósmica.




PERSONAGENS ESSENCIAIS NA FORMAÇÃO SINOLÓGICA DE RICARDO JOPPERT



NICOLE VANDIER- NICOLAS


             
Esta grande dama francesa da Sinologia iniciou seus estudos orientais na década de trinta,obtendo na conhecida e ve.nerável Ecole des Langues

Orientales Vivantes(fundada por Colbert em 1669),em 1936,o diploma de chinês e,em 1939,o diploma de japonês.

Prosseguiu os estudos até 1940 sob a direção de Marcel Granet e de Paul Pelliot,seguindo igualmente cursos de Henri Maspero e de Marcel Mauss
no Collège de France e na Ecole de Hautes Etudes,tendo-se iniciado aos estudos de Sânscrito no Instituto de Civilizações Indianas.Começa a carreira
de professora de História das  Artes do Extremo-Oriente na Escola do Louvre(1938-40). Professora  no Institut des Hautes Etudes Chinoises até 1968.
Em  1955 entra para o ensinamento da Ecole dea Langues Orientales(mais tarde o Institut National des Langues et Civilisations Orientales).Sua Tese de
Doutorado,sobre grande pintor Mi Fu(séc.XI),defendida em 1958,foi um marco na compreensão do Pensamento e da Estética chinesas.Dirigiu durante anos
o Departamento da China no Institut National.Depois dee sua aposentadoria,em 1976,continuou a lecionar,no Institut d'Archéologie,assegurando um curso
de História das Idéias na China
 


LEON VANDERMEERSCH


Professor emérito.Dirigiu a Ecole française d'Extrême-Orient.Grande especialista da paleografia chinesa.Segundo ele a China tem uma Língua Gráfica(Wen
Yan),"em que os ideogramas não se referem ,para o sentido,primordialmente às palavras da língua falada.mas são eles próprios,os geradores de sentido.
A pronúncia foi acrescentada a posterori para facilitar a manipulação mental -são signos orais que se acrescentam aos signos gráficos,os verdadeiros
geradores de sentido



XU BANGDA

Grande especialista e pintura e caligrafia do Museu do Palácio em Pequim .Trabalhou com Ricardo Joppert para sua tese sobre Huaisu,no Pavilhão Shufanzhai
na Cidade Proibida em Pequim.

YU YUJEN.

Grande calígrafo do século XX.Ricardo Joppert conheceu-o em l958 em Taipei.Criou um sistema simplificado dos caracteres(biaozhun caoshu-"escrita
cursiva modelar")tornada famosa e inspirou muito da renovação simplificada dos caracteres no Continente.



A Grande Imagem (Da Xiang) na Arte da cerâmica chinesa.
"Semelhança não-semelhante"(si bu xiao).

O SENTIDO ÚLTIMO DA CERÂMICA/PORCELANA
 
"Que  te atenhas à Grande Imagem
E o mundo virá a a ti"

Pintura e caligrafia sempre foram as Artes de elite na China.Assim,desde muito cedo os letrados sobre elas compuseram tratados e
ensaios em que procuraram interpretá-las de acordo com o Pensamento medular de sua magnífica Civilização.
O Pensamento da China é decididamente holístico:holos:o Todo.O cosmo é uno.No sèculo IX um grande letrado assim expressou-se
sobre a arte do traço(hua::um mesmo pincel pinta e escreve os ideogramas-pintura e caligrafia são gêmeas,na China.:

"A pintura(o traço)realiza as mutações do ensinamento(jiao hua)para secundar o relacionamento humano,escruta as transformações
 do Espírito Sutil (Shen)(1),sonda as sutilezas das profundezas,trabalha em paridade com os Seis Clássicos(liu ji)(2),seu movimento é o mesmo do das
quatro estações.Nasce do Espontâneo,não provém da elaboração do transmitido.
Os Santos e os Governantes(ou os Santos Governantes) dos tempos antigos receberam o Mandato (do Céu) e responderam aos Registros (lu-que o san-
cionavam).Foi então que surgiram os Escritos sobre a Tartaruga ,que copiaram a Eficácia(cósmica-De)(3)e a Configuração do Dragão,que rvelou o Tesou-
ro"(3)."


(1)Shen:o Espírito Sutil é a forma de energia que intervém nas combinações do yin e do yang e na organização dos seres vivos(...)

circula livremente por todo o corpo e não tem ocalização definida.Em fusão na Grande Harmonia(yinyun taihe),yin e yang formam uma só energia in-
divisa,mas seus aspectos encontram-s
e(virtualmente)nessa energia única(J.Gernet).
A contrapartida de Shen é Xin ,o espírito sensível,que é o espírito indidual(coração,mente),capaz unicamente de recepção(J.Gernet).Segundo
o Imperador Song Huizong(séc.XII),o espírito sensível deve reconhecer o valor do processo do Dao(a Realidade),
2) "Seis Clássicos"-liuji-"Livro da Poesia""Shijing","Livro da História"Shujing","Registro dos Ritos"Liji","Yueji""Livro da Música"(desaparecido)
"Livro das Mutações"Yi jing;" "Anais das Primaveras e Outonos"Chunqiu.São os Textos Canônicos,revis

ados  (shan) por Confúcio para transmissão(shu)
da Grande Tradição,alicerce da Civilização chinesa.Teriam sido precedidos por outros textos,apenas hipotéticos esses,por term sido perdidos há muito
tempo(fen,dian,suo,qiu).Há assim uma progressão ordenada(Jullien) que finalmente determinou a sacralidade da Grande Tradição.
3) O Mandato(Celeste)((Tian)Ming)-o que cada um recebe como Missão e se incorpora em seu percurso de vida."O Mandato Celeste,eis o a que
se chama de natureza(humana)"(Zhong Yong-cap.1).
Uma tartaruga saída do rio Luo teria trazido em sua carapaça um diagrama que inspirou a Yu,o Grande,soberano civilizador dos primórdios
o esquema da repartição espacial da China segundo um Grande Plano (Hong Fan)(cósmico)de regulação e governo,consignado no Shujing("Livro da História").
Um Cavalo-Dragão (longma)  saído do rio Amarelo teria dado a Fuxi,soberano mítico da Idade de Ouro, um esquema que inspirou os hexagramas do "Livro
das Mutações".Essas aparições se teriam devido a uma Eficiência(cósmica)(De) que dinamiza Shen.

Portanto a Arte,na China,tem o propósito de veicular "o absoluto do processo cósmico"(Jullien),o Dao.Pelo teor holístico da Civilização as
diversas manifestações particularizadas humanas(pintura,caligrafia,medicina,política,cerâmica-porcelana...)vêem- afins e complementares.Tudo,na
China,inclusive as ciências como a astronomia mostra "ressonância"(yun) na Arte,de acordo com os princípios de apreensão do mundo,da Realidade
no âmago.O holismo é antes de tudocósmico.A "Sinceridade",a "Autenticidade"(cheng) é conformar-se ao holismo.

A mensagem dos Textos Canônicos (jing) é representar o percurso(dao) último e invariável(heng jiu),a vasta lição que se não corta(bu ken
zhi hong jiao)(Liu Xie-séc.V).A Arte teria como domínio penetrar(dong) o Mistério(ao) da Ef iciência cósmica infalível e sua presença na natureza
íntima dos seres(xing ling).É Imagem (Xiang)de Céu-Terra(tiandi zhi xiang)
Uma noção tem permeado o Pensamento chinês-e isso desde muito cedo:a de "dínamo propulsor" (Ji) de toda criação.Que faz na pintura,
por exemplo,que a perspectiva(aérea) seja "muito mais energética do que a perspectiva-descritiva(linear-ocidental),por fazer apelo a um princípio
de 'mobilização dinâmica'"((Jullien).A perspectiva aérea considera vários pontos de visão a um só tempo e não apenas aquele em que se encontra o
artista .Assim,na Arte chinesa,considera-se que"a não ser que se parta do início do movimento de emergência, fora da confusão-indiferenciação do
invisível,poderá haver criação ou formação"(Jullien).É preciso que o artista capte  Razão(virtual) pré-existente de sua criação,antes de vir a tornar-se
manifesta ou particularizada e transmita,de algum modo,o dinamismo propulsor(invisível)antes de qualquer forma concreta,para que haja verdadeira
Arte e não apenas simulacro artesanal.
Por isso Shen Gua,gênio do século X,ao referir-se primordialmente à pintura,mas abarcando involuntariamente talvez outros dominios  d
da Criação,escreveu:
"Razão oculta,Criação das profundezas"(ao li,ming zao).
Sem querer estender-me a analogias heterodoxas,o que a Física ocidental pretende,ao tentar captar o que chama de "partícula de Deus"
(higgs) faria pensar na noção de "dinamismo propulsor"(ji),reconhecido pelos chineses como origem de toda criação. Mas os chineses declaram
 estar "ji" além de qualquer  possibilidade de demonstração prática,o que a Física procura para "higgs"."ji" seria aquele ponto do conhecimento
humano que nem o Sábio Luminar(sheng),em seu "estágio supremo"(qi zhi),poderia alcançar(Zhong Yong XII),ou "aquilo,relativo ao mecanismo de
yin-yang,que é incomensurável"(yin yang  bu ce,zhi wei shen).Trata-se de shen,a dimensão do Espírito sutil(Yijing,xici,I,V).O que se pode atingir
é início do movimento(duan dong),nada aquém.Pelo movimento,em seu élan inicial autêntico captado pelo artista,poder-se-ia,em contraponto,
captar a essência de tal dinamismo propulsor.
O letrado-esteta só tem uma busca:a do Absoluto,que equivale à auto-realização."Atingir  o sentimento
de unidade com a natuteza e o unverso"("Timeless Fascination".C.Delacour).
"Não-cognoscível na essência,o Incondicionado pode entretanto ser captado na primeira manifestação:o movimento,'qualidade simples
que é a da vida'(Edg.de Bruynes)",escreveu Nicole Vandier-Nicolas.O movimento seria o contraponto fisicamente captável do dinamismo propulsor
e enquadrar-se-ia assim no esquema da "curva compensada do moivmento vital"(o todo do processo-virtual e atual pois),de que fala também Mme.
Nicolas:feliz irregularidade que quebra a simetria estática.
O grés Jun da dinastia e de tradição  Song:uma densa   superfície azul opalescente recortada por fino craquelé(jing wen)
-yin-yang em fusão,na harmonia virtual de yun-yin-a simetria pré-explosão do manifesto. Uma gotícula de óxido de cobre resultante em mancha violeta:
a quebra na simetria com consequente criação no virtual simbólico do verniz azul-BANG...
No foro íntimo de um grande artista,o dinamismo natural(ling) que realiza ou atualiza shen(o Espírito sutil)e responde sempre-e imediatamente-
(jing) ao dinamismo propulsor ji(dunamis em grego=poder)entra  em cena.Duas forças à maneira de imãs.O resultado é o ato criatório.Citapurvacarita:
o primeiro funcionamento
 da Consciência.A Libertação mesmo dos Buddha,no contexto    do "Ensinamento de Vimalakîrtinidersa".O  Universo recria-se no Infinito do ato.

.
A EXPERIÊNCIA COMO NOÇÃO COLETIVA-A TRADIÇÃO

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Francesca Bray(in"Essence et utilité:la classification des plantes cultivées en Chine "-Extrême-Orient Extrême Occident 10,1988)
sugeriu que o termo jingyan-"experiência"- seria como "tecer (a trama)de testemunhos na urdidura de um tecido"(Jing=tecer;yan=testemunho).A experiência,
para a China,"não significa só o adquirido que se encontre e apen as num texto,tendo em vista concretizá-lo;é preciso na verdade considerar a experiência
como um dado coletivo:do próprio indivíduo,de seu aprendizado,de seus mestres e colegas,e dos grandes Mestres da Tradição que segue..."
Sôetsu Yanagi,um dos inspiradores do movimento japonês Mingei,que valoriza o artesanato autêntico,não-comercial,escreveu:(...)
muitos artesãos renderam-se incondicionalmente à tradição.Se tivessem dado guarida à mínima dúvida de seu poder,seu trabalho
teria sofrido um bloqueio,
porque esses artesãos nada mais eram que criaturas simples,raramente passíveis de estarem sujeitos a uma reflexão(por si  sós).Entretanto,o poder da
tradição torna-os capazes de empreender uma grande obra (...)pois um exemplar de cerâmica Song não é o produto de qualquer gênio individual,mas do poder
não-individualizado  da tradição(...) sua beleza nãp provém de uma única fonte pessoal:por isso não cabe perguntar seu autor..."(in "The Unknown Craftsman"

O Japão espiritualizad do Zen e do Chanoyu (Cerimônia do Chá),por exemplo,valoriza a simplicidade da cerâmica coreana do período Yi(1292-1910)
porque nela capta um não-dualismo que viria da natureza intrínseca das coisas-a "realidade das coisas",como escreveu Sôetsu Yanagi.Natureza anterior à
divisão gerada pela divisão artificial dos conceitos duais:o feio e belo,os conflitos dos eventos.Estado das artes descrito pelo Zen como "sem eventos'
-bujian-"sem dificuldades"-bunan.A "Transparência da Manhã" (zhaoche)do Taoismo chinês. Mas na China há mais.O que se descreve pela expressão "dan ya"
-"Elegância Pura"-na Estética do letrado chinês é peculiar.Usam- na os letrados(wen ren) em relação à sua arte,que,altamente sofisticada no plano intelectual,
fundamenta-se todavia na simplicidade conscientizada da realidade do espontâneo.Não-dual certamente,mas de extremo requinte.Difícil compreender no Ocidente.
Trata-se de requinte que se não deixa bloquear para veicular o que a Vida tem de absolutamente natural:ziran-"o que é assim de si
Em pintura:Dong Yuan,Ni Zan,Mi Fu,Dong Qichang,Wang Shimin,Xu Wei,Shitao.Huang Gongwang,Wang Meng,Wu Zhen.Todos inspirados pela Idéia de
Wang Wei.Em cerâmica:o Ruyao,o Junyao,Longquan e o Guanyao da dinastia Song do Sul.Espontaneidade,Natureza intrínseca das coisas e dos seres,mas a nível
cósmico.O "Livro das Mutações"absorvido em seu fundamento.E virtualidade e atualidade simbolicamente vistas e compreendidas,transpostas sob mensagem
estética. Aoli mingzao:"Razão oculta;Criação advinda das profundezas"(Shen Gua-séc.10)
Os objetos que valorizamos como sendo de arte quase mística ou esotérica sempre foram na verdade usados na vida diária.Na época Song objetos
feitos em matérias intrinsicamente valiosos,como o ouro,a prata ou a laca passaram a ser modelados em argila,justamente para serem usados no normal da
vida,em restaurantes ou casas de chá,por exemplo.Mesmo as peças feita para o Palácio,como o Ruyao,tinham também utilização rotineira:tinteiros,vasos de
planta... Os chineses buscavam a vida diária,a utilização:Wang Fuzhi(séc.XVII):"(...)sem a sub-stância,não há utilização;sem o uso,nenhuma sub-stância-wu ti bu yong
,wu yong fei ti)(...)"E ainda:"(...)é no objeto que se encontra o Curso(Dao=o Absoluto)(...)"Circuito fechado;holos=o todo.
Escreveu Sôetsu Yanagi,citando personagem budista:"(...) a mente de todo dia é o Curso(...)"Mente prístina,ao abrigo de ondas tumultuosas,dos ventos
violentos das circunstâncias de exceção.

Um vocabulário muito específico aplica~se à estética da cerâmica grés dos Song:

-qing:verde-azul
-zi ou zirun:riqueza ao olhar e ao tato
-dian qing:verde-azul indigo
-jingzhi:delicado em essência
-danshun:pureza na solidão
-pingdan tianzhen:smples,sem artififícios,como a verdade celeste
-hése:cor férrea mate(craquelé e bordas)
-guangze:densidade de luz
-wenrun:densa riqueza de olhar e de tato
-rouhe:suavidade e harmonia
-ziran:espontâneo,natural-"o que é assim por si próprio",tal qual
-ya:a Elegância(sofisticada mas natural )
-yòuya:Excelência na Elegância
-tuizhi:de aparência muito untuosa
-zhi ru zhi zhu:tecido com teias de aranha(o emaranhado do craquelé)
-fengrun:riqueza de olhar e de tato
-danya:Elegância simples,sem artifícios
-guanghua:luminosidade acetinada
-

Como escrevi,pintura e caligrafia sempre foram artes letradas,de elite pensante,e desde muito cedo esta elite deixou-nos tratados a elas dedicados.
Tal não se deu com a cerâmica e a porcelana.Certamente apreciadas pelos letrados,o lado trabalho manual que involviam impedia-os de se dedicarem
pessoalmente à manufatura.O ceramista,desde os primeiros tempos,era anônimo e vinha do povo.Somente nos séculos XIX-XX,e sobretudo no Japão,principiaram
os artistas ceramistas da Ásia a serem conhecidos,ao mesmo tempo em que se desenvolviam teorias estéticas específicas de seu ramo.
Uma verdadeira corrente pensante da cerâmica e porcelana estebeleceu-se no século XVIII,quando Tang Ying(zi Jungong;nomesm literários:Shuzi e
Guaji laoren-"Ancião da Morada do Caramujo"),fino literato,foi nomeado diretor da importante fábrica de porcelana de Jingdezhen.Em 1644 a China caiu sob
domínio de um povo-os mandchus-originário de uma confederação de bárbaros do Nordeste e sua conquista não foi pacífica.Anos de luta seguiram-se.
Jingdezhen foi parcialmente destruída,só se reerguendo em 1682.Três governantes bárbaros esclarecidos(Kangxi,Yongzheng,Qianlong) interessaram-se
em recompor o antigo prestígio da fábrica.Três grandes diretores reconduziram Jingdezhen,mas Tang Ying revelou-se o mais capaz,deixando-nos inclusive
trabalhos literários que marcaram o pnsamento estético sobre os cerâmios.
Obras passaram a tratar do assunto.Duas foram traduzidas para  idiomas ocidentais.Jingdezhen Taolu,traduzida em francês por Stanilas Julien:
"Histoire et Fabrication de la Porcelaine Chinoise"(Paris,1856) e Tao Shuo,em inglês,por S.W.Bushell:"Description of Chinese Pottery and Porcelain"(Oxford,1910).
Em chinês e não traduzidas houve outras:Yaoqi Shuo("Conversas sobre Cerâmica"),por Cheng Zhi;Jingzhen ciqi shaohua falue(sobre técnicas de fabricação),por
Cai Mutao;Yinliuzhai shuo ci,por Xu Zhiheng;Ci Shijie("O Mundo da Porcelana",por Chen Xiaowei;Yangxian Minghu xi(sobre as chaleiras de Yixing),por Zhou Gaoqi
Yangxian mingtao lu,igualmente sobre a cerâmica avermelhada de Yixing,cobiçada pela classe letrada,por Wu Qian.
Analisarei um texto de Tang Yin,para quem "(...)a fabricação da porcelana entra na ordem do universo(...)",como escreveu Paul Pelliot(T'oung Pao,v.XXII
1923).E "(...)a criação e a evolução do mundo(são) comparadas com a obra do ceramista e com a do fundidor de metais(...) a expressão mesmo de yan(sic)zhi(na
verdade dever-se-ia ler shenzhi-R.J.)("amassar o barro") é também empregada por Laozi(cap.11)(...)o fole(tuoye)pode representar a Civilização,pois a evolução
do mundo é comparada com a obra de um ceramista ou de um fundidor de metais(...)Laozi compara na verdade com um fole (em trabalho)o espaço entre o céu
e a terra;é por força desse fole do universo que o fole do forno faz que cerâmica participe (da obra cósmica)(...)"
A cerâmica é característica da fase neolítica da evolução humana;a manufatura do bronze,da Idade que se seguiu.Os vasos rituais zun,lei,yi e ding
herdaram da cerâmica neolítica formas,suavidades,arredondamentos... Num fluxo contínuo.
Eis o texto de Tang Yin:
"Para o trabalho ,é necessário modelar o barro,que provém das florestas e das fontes.A forma não ultrapasssa a dos vasos zun
e lei;igualmente repete a dos vasos yi e ding.
A fumaça dos fornos aviva as cores e mesmonuma simples terracota participa da potência do Fole.Do pincel as cores fazem
advir as flores;assim a porcelana pode mostrar as Imagens simbólicas(xiang) da Civilização(wenming).

Esse magnífico texto foi um dos que consagraram a arte cerâmica como co-participante da Estética chinesa,ao lado da poesia,da caligrafia e da
pintura.Se a entrada em cena se revelou tardia,tal deveu-se a serem a cerâmica e a porcelana produtos de ação manual que envolvia o barro e com esses
lidava o oleiro anônimo,homem do povo,não pertencente à elite letrada,pelo menos até o patrocínio imperial de Jingdezhen.Mas é de crer que as idéias
que Tang Yin tardiamente veiculou literariamente sempre tenham estado sub-jacentes na mente chinesa:teria sido apenas seu afloramento que se mostrou

tão tardio.
No apogeu Song a classe letrada dos wenren consagrou as "Três Perfeições"(san jue):uma pintura não estaria completa sem associar-se à poesia
e à caligrafia.O responsável por isso foi o Imperador Huizong,no século XII.As três formas de arte uniam-se harmoniosamente no espaço,para manifestar
o desejo imperial de mostrar seu Governo como era da Grande Paz (Taiping).Pela caligrafia,talvez especialmente,o  artista eternizava-se. O humilde pincel
de bambu,ao ser manipulado,deixa rastros-"selo,impressão ,marca do coração(xinyin)"chamou-os Guo Ruoxu.Tomemos um exemplo a esmo:em seu texto
"O Sopro(vital)da flores inebria o homem"(hua qi xunren) o grande Huang Tingjian(1045-1105) deixou-nos um escrito
onde ele,Huang,permanece:ao percorrer
as linhas,cada movimento pode ser seguido até hoje,revelando o íntimo desse letrado de espírito sutil;ele atende ao convite de visitar-nos.Mas na
pintura "Hibisco e Faisão Dourado"(furong jinji),a ave,pousada num ramo inclina a cabeça para o poema do Imperador Huizong(e por ele também caligrafiado),
como a indicá-lo...O esquema das "Três Perfeições" foi portanto além,
na expressão  da Arte.
Todavia,Ruyao,Junyao,o Céladon de Longquan e,talvez especialmente , o Guanyao da dinastia S ong do  Sul são Arte sem paralelo. Neles manifesta-se
algo extremamente importante para o estudo da China:a lei de integralidade está presente no inconsciente coletivo dos chineses,procede de modo direto de
uma experiência ancestral transmitida,sem quebra,às gerações e transparece comprovadamente,no que diz respeito aos céladons,na produção do oleiro anô-
nimo responsável pela manufatura do tipo Guan e seus correlatos,desde o século XII até o presente (fornada não-comercial de l965).

Integralidade diz-se JUN,palavra que é sinônima de igual,total,de(ao)mesmo nível,imparcial,igualizar,equilibrar,universal,ENCAIXE TOTAL.Em termos
concretos,define o torno do oleiro.O Yijing já diz que "poder ser integral é obra do Sábio.O Sábio identifica-se ao Junzi,o Homem Sincero(em francês:"honnête
homme) por excelência.E diz-nos o Liezi,obra taoísta(cap.5):"(...) a integralidade é a Lei máxima(que manifesta o Absoluto(Li:a "razão intrínseca das coisas"-
esplendor de forma ,que é resplendor da substância mesma)sobre a terra(...)(jun,tianxia zhi zhi li ye).  E o Liezi conclui que essa Lei é inerente à consciência
humana("existe lá por si mesma"-zi you zhi qi ran).Como o ciclo das estações(o ciclo celeste-tian ji);bastará "sondar o sutil"-tui wei-(o recôndito-da mente)
para chegar ao manifesto(da  zhu);"procurar o início"(xun duan)"para ver o fim"(jian xu)(Hou Han shu-"História da dinastia Han Posterior"- biografia de Cai Yong
xia cap.90.
Voltarei a certas premissas sobre o conceito de Integralidade,pois tenho tratado do assunto extensamente em outros escritos,em especial em "O Sa
mâdhi do Verde- Azul"(Rio,Avenir Ed.1984).Enfatisarei:"(...)toda fragmentação é apenas o resultado do bloqueio da espontaneidade que se aloja nas regiões
abissais da mente e a aparente dicotomia na essência das coisas deve-se ao predomínio da razão sobre a intuição;(...)quando o pensamento se não confunde
(xin wu za lu)(Liezi),estabelece-se um "fluxo contínuo"(jun) entre sujeito e objeto que "permite a um pescador aprisionar um peixe sem desconfiança ou resis-
tência da presa;através da mente o único movimento é a Integralidade,que se manifesta na mão:não há pescador,nem vara de pescar,nem peixe...(...)"
"Diante de um torno(jun),imagem necessária do ajuste total(jun),o oleiro chinês anônimo,que durante gerações,só viveu no contexto de uma filosofia
da experiência vivida ao nível do real,deixa naturalmente que a mente impulsione o movimento dos dedos;mente pura,aberta à própria luz,que se projeta integral-
mente na criação,sem vícios,sem hesitações.E o que se projeta é a lei da Integralidade (jun)..
No Guan(especifiamente,mas também em toda sua família-lato sensu),as craqueluras(wen),consequência da conjunção de o
postos-argila,verniz-manifes-
tam o mundo do Ser(do advento:you).Miríades de formas,entrelaçamentos,são as teias de aranha que tecem a vida.E no entanto têm a mesma Raiz,que as faz se
ajustarem umas às outras,em peças diferentes,produzidas em épocas diversas.Superpondo-se
qualque r um desses céladons a outro,haverá coerência entre as
linhas do craquelê:uma peça completará o desenho da outra,invariavlmente concretizando as linhas em forma de pinças de caranguejo(xie zhao) carracterísticas
do tipo.Fato espantoso,que ocorre constante em mais de oitocentos anos,mesmo que um céladon se apresente em tamanho natural e outro se apresente na escala
reduzida de uma fotografia,por exemplo.Ajuste total,encaixe total sem diferença de milímetro.Integral.Jun..

Escreveu Zong Bing,sobre a pintura,já no século quinto:"(...)o Espírito sutil,originalmente,não tem fim nem princípio(shen ben wu duan).
Pousando (apenas)nas formas,comove os semelhantes(xi xing gan lei).Para tal "é necessário evidenciar-trazer à luz- a fonte das coisas(xu ming wu zhi yuan).

  (Arte) é dar élan ao Espírito Sutil(chang shen). Relembremos:o Espírito sutil (shen)"é a forma de energia que intervém nas combinações do yin e do
yang e na organização dos seres vivos(...)ela circula por toda parte nos corpos e não tem  morada própria(...) em fusão na Grande Harmonia Primordial(yin
yun taihe),yin e yang formam uma só energia,mas seus aspectos acham-se (virtualmente) nessa energia única"(J.Gernet:"La que está des Choses")
O mecanismo universal repete-se na mente.Assim,a noção do equilíbrio(jun)existiria imanente ao indivíduo e poderia ser veiculada,se a mente
permanecer perfeitamente livre para manifestar a plena capacidade.O artesão ceramista sempre viveu-conviveu- numa Civilização que se alicerceo na Realidade
intrínseca da Vida.Essa Realidade,em vez de imaginá-la,a China imageou-a.O delírio,na China,não existiu até a época republicana,quando se passou a buscar
o modelo ocidntal de vida.O absurdo do século 21 chinês é um fruto estranho no universo chinês tradicional.
O profundo organicismo chinês levou à representação do Eixo do Mundo pelo monte Kunlun,concebido como tendo a figura de um cone de pé,sobre
o qual se coloca um cone às avessas:um é,portanto,o perfeito reflexo do outro.Na fisiologia Kunlun é o nome da cabeça.Em sua região mais secreta,o Kunlun,
no homem,compreende a câmara igual a uma gruta(dong fang),ao lado do nirvâna(niwan),pequena seção do cérebro que mede uma polegada quadrada-fang cun-
e é a sede do pensamento meditativo.A gruta liga-se à idéia de misterioso,profundo.O quadrado de dez pés(fang zhang) é câmara solitária de um asceta em
meditação e corresponde a fang cun,a polegada quadrada da gruta do cérebro onde se elabora a realidade mental.Dong fang e niwan representam-imageiam-
assim os recônditos do pensamento onde se recria o mundo `maneira da produção cós

ica(cf. Rolf Stein,"Le Monde en Petit").
"Examinar exaustivamente a Razão das coisas,penetrar até o fim sua própria naturza e chegar ao Mandato(que cabe individualmente)"(qiong li,jin xing,
zhi yu ming)-eis o que reza o "Livro das Mutações"(Yijing-Shuo gua,I).O pensamento  norteou o letrado chinês de todo tempo.Mas refletia a Civilização em terras
da China.De tal maneira que o povo inculto-o  artesão anônimo-estava dela imbuído naturalmente,como uma pessoa que sempre viveu à beira d'água,com ela em
visceral contacto nem sabe mais que está imerso,quando se acha nadando...É a Un
dade que se realiza inconscientemente e a mão do oleiro segue um ritmo
espontâneo que cria em compasso com a lei da integralidade.Só assim explica-se a coerência das linhas do craquelé antes analisado.Nenhum apuro engendrado
pelo intelecto poderia levar a um equilíbrio tão completo.
   

  No século XII,o grande Imperador Song Huizong escreveu que finalmente não sabia se a Arte era o Dao-o Curso Abs0luto-ou se o Dao era a Arte.
Pelas interpretações a que a arte cerâmica poderia prestar-se o seu sentido último seria na verdade cósmico.

'  

A   COMPOSSIBILIDADE   DA    RAIZ(LA COMPOSSIBILITE DU FONCIER
Num sistema holístico parece-me essencial a noçáo de centralidade.Se se trata de um mecanismo total,é necessário
o seu governo,a fim de evitar mergulhar-se no caos inoperante.
Leitmotiv.Uma sinfonia começa com os movimentos lentos,e termina con fuoco.Mas há o Maestro,que a integra e rege-a.
Centraliza.
No século 11,Shen Gua valeu-se do ideograma "ji"            -que significa também um dos "troncos celestes"(tian gan)usados no sistema decimal

dos ciclos temporais-para estender-se sobre a centralidade.
Escreveu ele:(...)na escrita antiga o ideograma ji compõe-se da unidade(yi) e de um elemento de traços contrabalançados.Significa a "interrelação
estrutural"(tong guan) entre o Céu,a Terra e o Homem;tem o mesmo sentido do ideograma "wang"(Rei)-em sentido filosófico,a união das Três Ordens através
do Soberano.Centralmente(pelo traço vertical único que atravessa três traços horizontais)é o Soberano wang;o que se desenha à esquerda e à direita é "ji"(cf.
desenho acima).Seng Zhao(séculos IV-V)declarou:"(...)saber que as miríades de coisas são a Unidade(yi) e (o contrabalanceamento visto em)ji,não é verdade
que tal compreensão só poderia provir do Sábio(luminar)?(...)"
O raciocínio de Shen Gua só pode ser integralmente apreendido se nos referirmos a dois outros textos:o dicionário etimológico
 Shuo Wen Jie Zi("Teoria
das Grafias Primitivas e Explicações das Grafias Derivadas",por Xu Shen(ano 100 de nossa era) e o Yue Ling,importante calendário com prescrições mensais,
inserido no "Registro dos Ritos"(Li Ji),e também no Lushi Chunqiu e no Huainanzi(obra taoísta).O Li Ji é trabalho compósito ,de datas muito diversas que vão
do IV século ao I século antes de nossa era.
O Shuo Wen identifica "ji" à nota musical gong(o dó mediano-ou o fá)numa escala de doze notas ,e produzida pelo tubo huang zhong("sino amarelo'),
de uma série de doze,de bambu,que dá o padrão da gama musical chinesa.  Admite 540 radicais para os ideogramas(6-quantidade Yin-vezes 9-quantidade Yang vezes
10=unidade expandida-multidão),de que lista cerca de 10.000,correspondentes às miríades de coisas-wan wu e começam com o ideoagram yi-a unidade fundamental-
para terminar com "hai",último caráter do ciclo cósmico duodecimal.É a Totalidade(holos).

O ideograma wang,acrescente-se,tem o sentido,no Pensamento chinês(mas não na etimologia)de "convergência do universo"(chu wang

que lhe dá o Shuowen.Em sentido etimológico liga-se à posição do Soberano na sociedade,como representante masculino máximo.No campo filosófico-estético
,o ideograma-três traços horizontais que liga um único traço vertical-simboliza a união das ordens celeste,terrestre e humana pela figura do Rei-Sábio,num dizer
atribuído por Dong Zhongshu(séc.IIa.n.e) aConfúcio,que teria acrescentado:"(...)aquele que une as Três Ordens é o Soberano(...)"
O Yueling evoca o significado de ji na simbologia da centralidade,quando o liga à inter-estação do meio do ano :,época de juntura temporal,mas que
escapa à noção de duração ou contagem temporal,por tratar-se "da origem e da síntese "(Grison,P.) de todo o ciclo temporal.Numa construção chamada Ming Tang,
o Soberano,num aposento do meio,entra em comunicação central com o Céu e ,sugere também Grison,observava as sete estrelas da constelação da Ursa Maior(bei
Ne sequência evolutiva do ciclo cosmológico dito dos Cinco Elementos(ou Cinco Fases ou Agentes-wu xing)é a Terra que se acha nessa conjunção.
Os dias correpondem a ji em combinação com wu:respectivamente o quinto e o sexto "troncos celestes"(tian gan),que  ocupam também poisição mediana na ordem
dos "galhos".A Terra é o Meio(zhong yang tu) diz o Yueling;"aos dias (nessa posição)corresponde(o binômio) wuji(...)sua nota musical é gong,seu tubo sonoro é
o huang zhong central,que emite  a nota gong;seu número é cinco(metade da unidade plena dez)".Ji simboliza,pela centralidade,"origem e síntese".
Sendo central,ji evoca a idéia de "ascender","levantar-se",Evoluções,meandros-quyi-as dez mil coisasque se escondem(cang),se abrem(pi),se contraem
(qu)-à maneira do feto no ventre materno,para finalmente explodir em manifestação.Tudo isso liga-se ao processo de germinação da semente(xiu).
O grande teórico da arte cerâmica-tardio,mas veiculando certamente noções subjacentes-no que diz respeito à sua inserção no domínio do Pensamento
estético-foi Tang Yin,no século 18.Uma das apelações que criou para si foi a de "Ancião da Morada do Caramujo"(guaji laoren).Escreveu "As Palavras do Coração
do Oleiro"(Taoren xinyu) e também o texto explicativo de vinte pranchas que acompanharam,em 1743,um álbum,para uso imperial, e foram anexadas ao Jingdezhen
Taolu,editado em 1815,por Zheng Tinggui."A criação da porcelana entra na ordem do universo"(Pelliot). A posição de  centralidade diante dos fenômenos do universo
foi tabém a do oleiro,embora de maneira inconsciente sem dúvidas:permanecer "entre",na fronteira entre visível e não-visível,entre virtual e atual,entre a

(wei) do Dao(por sutil,dificilmente captável) e o consequente "perigo"(wei) da mente humana em deixar-se levar pelo subjetivismo da imaginação(prefácio de Zhu
Xi ao "Zhong Yong",em que se baseou em passagem do Shujing).Sâo na verdade idéias da cultura letrada e o oleiro era inculto e anônimo,mas é necessário lembrar
que a Civilização,na China,antes do séculos XX e XXI e de seus desmandos,era monolítica e que se absorvia inconscientemente o modo de pensar único.
Pela imagem simbólica,conseguiram os chineses manter-se "firmemente no centro"(yun zhi zhong).Imageando (e não imaginando) simbolicamente
a realidade das coisas,o que na verdade ocorreu foi uma captação da Razão não-visível(ao li,no dizer de Shen Gua):a criação decorrente provinha das profundezas
(ming zao). Teria sido esta espontaneidade,tão natural nos artistas do Extremo Oriente,. que alguns estetas ,como Sôetsu Yanagi,viram na cerâmica popular coreana,
elevando-a à posição que ocupa na Cerimônia do  Chá.
Nesses termos a cultura letrada inconscientemente absorvida no sistema holístico parece-me indispensável para a compreensão.
Prosseguindo:
Zhi zhi zai ge wu:"o ápice do conhecimento está na investigação das coisas"(Daxue,5)-transposição da prática chinesa muito antiga do espírito de
lapidagem que vem da arte do j
A atitude psicológica para tal permitiu o "afastamento"(jiong)que facilita a visão global e isso levou à captação da idéia natural que se mostra no mundo
se soubermos ver(jiong de tian yi).Essa foi a conclusão do genial Shen Gua,no tempo dos Song.O global é gestalt:"um todo organizado,em que cada elemento indivi-
dual afeta os outros,o todo sendo maior do que a soma das partes"(Oxford Dictionary).

Na arte cerâmica vai-se desde "a modelagem da terra(shen zhi),que provém das florestas e das fontes""(segundo Tang Yin) e assim "participa do poder
do (grande) Fole"(can tuo yue) entre o céu e a terra (Laozi cap. 11 e 5).Mas esse Fole é uma metáfora para a Força que dinamiza o Sopro vital (qi),possibilitando
toda manifestação de vida.Tang Yin lucidamente continua,combinando três ideogramas com o radical de "fogo":"A fumaça do forno faz brilharem as Manifestações"
(lu yan huan se)."Se"-"cores",literalmente,tem o sentido figurado de "manifestação(cósmica,de vida aparente)". Na escrita ideográfica dos chineses,o radical
de "fogo" enfatiza naturalmente o dinamismo do processo.
Dentro do espírito holístico do Pensamento chinês o inteiro universo é campo para a Grande Contemplação (Da Guan)(era dinástica do Imperador
Song Huizong):"(...)o conhecimento místico é visão;(ao mesmo tempo) saber e poder(...)o místico liberta-se de toda dependência estranha ao Poder que o
move em direção ao ato.Para ele a atividade da contemplação basta-se por si mesma(zi zu)(...)",escreveu Nicole Vandier-Nicolas.
"Grande Contemplação"(Da  de Guan)foi a denominação escolhida pelo Imperador Huizong dos Song para designar o período de tempo correspondente a
1107-1111.Para celebrar essa era-que julgava bemfaseja-o Imperador mandou cunhar a moeda Da Guang tong bao("Moeda corrente (da era) Da Guan") com sua
própria caligrafia,do estilo do "Ouro Gracioso"(Shou jin shu),que teve grande prestígio e se tornou mesmo amuleto em toda a Àsia,até nossos dias.
Da Guan refere-se ao vigésimo hexagrama do Yijing("Livro das Mutações"),que diz:
"A Grande Contemplação dirige-se ao alto:docilidade e humildade;em posição central,contemplar o mundo(...)
embaixo tudo se transforma(...)
conteplar o perurso espiritual dos céus e ao mesmo tempo(compreender)que as quatro estações processam-se sem erro.
O Sábio utiliza o  percurso espiritual para estabelecer  ensinamento;
Assim o mundo dará aquiescência..."

Esse hexagrama 20 do Yijing evoca,em sua construção de linhas Yang (unas) e de linhas Yin (qitsodelo em sentido figurado.
A era Da Guan instituída pelo Imperador foi mística e sofisticada:"(...) contemplar intensamente o mundo para descobrir todos seus meandros,um pouco como se
observam os marcos simbólicos celestes(guan tian wen),para compreendê-los(...)",escreveu F.Joyaux:"Les Monnaies Calligraphiées par l'Empereur Song Hui Zong"
in Journal Asiatique,2012,1.Os amuletos que suas moedas mais tarde inspiraram traziam no reverso motivos cosmológicos,como o das sete estrelas da constelção
de Órion(Beidou),o sol e a lua...Beidou associa-se a uma entidade taoísta,Xuan Tian Shang Di-o Senhor do Alto do Céu Sombrio,que teria aparecido a Huizong
em 11 abstractssim,a observação cósmica era uma constante,no Pensamento corrente da China;sempre presente desde a aurora da Civilização,sua importância foi
aumentada,numa dinastia Song imersa em clima espiritual propício.O oleiro anônimo teria absorvido inconscientemente a cultura letrada onipresente,como aliás
também o mostra o entrelaçamento espontâneo de linhas(wen) que surgia nos céladons após o trabalho de forno e que abordei em textos anteriores.A homogeneidade
cultural que permeava todos os níveis da sociedade e se fortalecia,ainda,pelo ocorrente processo de síntese do Confucionismo,do Taoísmo e do Budismo(síntese do San Jia
o-as "Três Religiões")levou
a China a uma Iluminação ,a uma Consciência que permitiram os textos sobre a arte cerâmica de Tang Yin,no século XVIII e só foram prejudicadas pelos desmandos
dos séculos XX e XXI.


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ZIRUN: a characteristic,pertaining to jade and Song ceramics,of silken,ethereal lustre that defines firstly texture but plays with light,which dynamicallly
reflets itself in a unique way-hard to describe but can be visually perceived and felt by touch: wenya in the utmost degree of yi and shenhui.

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an shi chu shun:in peace with the moment to remain harmoniously available

It is not always possible to distinguish between abstract impressionism and abstract expressionism(...)sometimes by studying the evolution of a particular
painter one can see how abstraction gradually evolves from direct impressions of nature-Mark Tobey is an example.The titles of his paintings usually indicate a
title-"Distillation of a Myth"-but we can be quite sure that it had its origin in some visual impression.
The whole of (a) sub-group of expressionists(like Mathieu and Hartung) seems to rely on an infinite number of combinations of scribble-forms-squares
crosses,circles,triangles-endowing them with dynamic movement and sometimes with brutal colour,but leaving them to attract us,by their graphic vitalit.It is
significant that there is now an active tachist movement in Japan which develops its forms by obvious graduations from the ideograph or written character that
in the East replaces the phonetic alphabet of the Western world. Tachism is no mystery in Japan:it is merely an extension of the normal manner of writing.

(...)I believe(...)that most of the abstract expressionists are seeking for something supra-personal.Freud once described the unconscious as a seething cauldron.
Visually such a cauldron would present an agitated heaving surface from which,from time to time,objects of a definite shape would appear,to float for a moment
and then sink.Some of the painters I am discussing seem to be trying to represent such a bubbling surface.The title of the 14th century English mystical treatise
"The Cloud of Unknowing",would fit some of the paintings of Sam Francis and Mark Tobey. But the clouds are moving,swirling,and among them are certain more
definite forms,the shapes that haunt thought's wildnerss,to use Shelley's phrase. of
The painter,like Shelley's poet,draws his inspiration from a shifting cosmic panorama,from a 'boundless element' through which forms voyage 'cloudlike
and unpent'.Kandinsky used similar expressions-he spoke of 'the symphony of forms that arises from the chaotic hubbub of cosmic elements which we call the
music of the spheres'.

The latest picture of the universe offered to us by the astronomists is of an infinite explosion of matter,a state of continuous creation and destruction,

 within which,however,we discover nuclei of form and structure,constellations and finite wordls,and within these,the infinite recession of perfect forms.
The type of artist we are considering ma be searching for similar forms behind the veil of consciousness,for forms irrespective of any

significance,that can be teased out of the seething cauldron of psychic particles .Such forms need not be figurative;they are more likely to be amorphous,
'gestaltlos'.The deeper we penetrate the cloud of unknowing,by contemplation and intuition,the less likely we are to find the shapes and images of our waking
world.We enter what Anton Ehrenzweig has called 'a Gestalt-free matrix of forms',a matrix within which the shapes are as yet unformed,and only acquire form
and significance as the inchoate primary substance coagulates(...)to express this power the word 'magic' has been evoked.I prefer to resort to Jung's hypothesis
of an ARCHETYPAL FORM ,that is to say,of a process of crystallization that takes place without the intervention of the conscious will,and leaves us with a
shape,more or less complex,that appeals to us for reasons more or less unknown(...)in most cases the symbolic function of the forms remain indeterminate
(...)for the artist and the lover of art it is not necessary to know why(we are fascinated)(...)


Sir Herbert Read:"The Informal Image in Art"
IV International Congress of Aesthetics-Athens,1960

"STARDUST"
"THE CERAMIC ART OF CHINA AND THE UNIQUE ACT OF FORMATION-TRANSFORMATION(ZAO HUA)"

"C'est par le pouvoir de répéter que le symbole comble indéfinement son inadéquation fondamentale.
Mais cette répétition n'est tautologique:elle est perfectionnante par approximations accumulées.
Elle est comparable en cela à une spirale,ou mieux un solénoÏde,qui à chaque répétition cerne
davantage sa visée,son centre".Le symbole est (...)épiphanie,c'est-à-dire apparition(...)de l'indicible.
Le symbole est donc une représentation qui fait apparaître un sens secret,il est l'épiphanie d'un
mystère"(Gilbert Durand)

"Le symbole (...) n'est jamais expliqué une fois pour toutes,mais toujours à déchifrer de nouveau
de même qu'une partition musicale n'est jamais déchifrée une fois pour toutes,mais appelle une
exécution toujours nouvelle"(H.Corbin)


Painting and calligraphy are in China arts of the élite and aesthetic theories have therefore been developed around them by artists who also belonged
to the intellectual class.But classical Chinese Civilization is holistic and unitary.In our days the evolution of the Mind,freed from dogma,one should be allowed to inves-
tigate reasons which work in the unconscious mind of the artisans also,who although deprived of elitist culture,have nevertheless naturally absorbed Civilization in
this holistic unitary context. By this I want to mean,here, the ceramic artisans of the past.This field of research has been explored in China by Tang Yin in the 18th century
and in our times,in Japan,by Sôetsu Yanagi and Shôji Hamada,joined by Bernard Leach in Britain."Insight into Beauty",it has been aptly called.The many-splendored radiance
of the diamond.

But the Chinese thinkers themselves,in their infinite clairvoyance,in the very remote past,had left the door open for us,in the present,to follow the  Way
(Dao) in new directions or ways(dao) . Mengzi(IV-III century b.c.e.)(in VII,I,chVII,4) declared:"all things are already complete in us!"wan wu jie bei yu wo yi).Ceramic forms
would thus be fashioned from unconscious archetypal forms,as the uncultured potter would have no intellectual support for his inspiration and could only rely on what
he carried deep in his mind.This "immediate and intuitive faculty" has been only recently recognized,speacially by Leach,Yanagi,Hamada-the sponsors of the
Mingei, but is anchored in texts of classical Chinese authors who have analysed in depth the process of creation.In the 12th century Dong You wrote:
"(...)if one looks at living things between heaven and earth ,they are solely the mutations caused by the revolutions of the Unique Vital Breadth(guan tiandi sheng wu,
te yi Qi yun hua er);the functioning is wonderfully  appropriate to things(gong yong miao yi yu wu you yi) and no one could be concious of the process,so that all

could (only) be achieved spontaneously(mo zhi wei zhi zhe,gu neng cheng yu ziran)(...)"Dong You clarifies his idea about Spontaneity(ziran="that which is so by
itself"):"whoever is capable of idenfication with Truth will obtain it(neng bu yi zhen zhe,si de zhi yi)(...)"And will be able to achieve perfect artistry(neng jin qi ji)(...)"
Organicistic holistic concepts have always characterized Civilization in China and have particularly been exponential in Aesthetics.But in the fractioned Mediter-
ranean cultures of the West-a patchwork of ideas-such a level of consciousness has been uncommon-very rare indeed.But in the 20th.century liberal Thought has
become possible.Jung has been one of the precursors.He wrote of the "eternal presence of the unique act of creation" which has led to the admission of the concept
of the archtype.And the principle of synchronicity "indicates in last analysis a transcendant connexion of all the elements of the universe. Unus mundus.(cfJung:
"Synchronicité et Paracelsica"(trans.).Ed.Albin Michel;Etter,Hansueli F.:"L'Evolution en tant que continu synchronistique",in "La Synchronicité,l'âme et la science".Paris,
Albin Michel,1995).Chinese Aesthetics celebrates thus the "universal song of life"(Nicole Vandier-Nicolas).

A notion has been essential for the Chinese mind: that of the Infinite Vital Breadth-QI. All-pervading,existing without Time,its Action(xing) is co-related
with the inherent Reason of Things(LI),which,together with Qi,masters(zhu chí) and structures the doses of partition(fenjì) for everything which comes to life in
the cosmos,according to Wang Fuzhi,a philosopher of the 17th century.The process is co-ordinated by a Subtle Spirit(SHEN) through its moving Power(LING) and
is received by the Sensible Spirit (XIN),which resides in the depths of the human mind (LING FU).The circle is thus completed,performing the Jade-like Union(HE BI)
 microcosm-macrocosm.Holism.

Certain branches of modern Western science admit that the "Indivisible Whole"-"Unus Mundus"-has in fact had its Advent in the Great Primaeval Explosion-
the Fossil Gleam("Lueur Fossile")lingering eversince seems to be its reminiscence:"particles once united and then separated behave themselves as if one 'knew' what
is the state of the other,even in great distance,what excludes the idea of interaction"(von Franz,Marie louise:"Quelques Réflexions sur la Synchronicité",in"La Synchro-
nicité...")
In China aesthetes have finally consolidated,during the Song dynasty(960-1279),the notion of "vital idea"-SHENG YI-"the vitality found in living things"(Susan Bus
h).
But we must remember that in general for Asia as a whole everything in the universe is alive in a way(as the concept of "kami",in Japan,shows so well).During the Ming
dynasty(1368-1644) the famous calligrapher Zhu Yunming(1460-1526) wrote:"(...)in painting it  is not  hard to sketch forms(xie xing),but it is difficult to seize the
idea(de yi)(...)(but) having seized the idea,one can capture(wan) the Reason(li) of the myriad of things on a piece of silk,(for) in the space between Heaven and Earth,
everything has some kind of life-the mystery(miao) of the formation-transformation(zao-hua)(of the cosmos)-ever changing-like(bo ru),ever dispersing-like(ru dang)-
cannot be described in forms(...)"
For a great Chinese artist,therefore,formal likeness has never been enough to transmit the idea of life and the cosmic Reason (LI) behind it .This has of course led to
the spirit of abstraction and the dilution of forms in representation.This mental voyage through "cloudlike and unpent"(H.Read)forms,the highly-cultured artist of
the élite took for granted.But the beauty also lay in the fact that ,in the context of a unitary and continuous Civilization like China's, ideas are absorbed by all and function
uncounsciously through spontaneity and naturalness:common people,like the potter,created wholly in harmony with the educated élite!
QI-the Infinite Vital Breadth-regulated by the Inherent Reason of things and beings:LI-goes from rarefication extreme to full manifestation.The Great Co-ordinator of
this whole process is the Subtle Spirit(SHEN):all pervading,all prevailing,it "perches"(xi) (Zong Bing)momentarily on forms through a power of realization (LING) and
commoves(GAN) the Sensible  Spirit(XIN) in man-his "heart"or "core"-through osmosis of like kinds(tong lei).
A precise and special terminology applies to Chinese aesthetical Thought.An image evokes the depths of the mind,where the capacity of apprehending
the inner light of True Beauty is activated:QIU HE-"the mountains and valleys",defined by the great Song calligrapher Huang Tingjian(1047-1105) as the "recess
where the supreme idea is formed"(zhuang yi zhi zhi shen yuan ye).
Qi-the Infinite Vital Breadth-always refers to Life,be it virtual or actual.There is no total anihilitation for the Chinese,what we in the West call death being
no more than a changing of states.The ideograph for Qi is composed of two elements:"breadth","steam","air","vapour" in its upper side and either "grain" or uncooked
rice" or "fire" underneath.The first form may have been used wnhen ritual food was cooked and served for the ancestors during the Shang-Yin dynasty(3rd millenium
b.c.e)(the practice remains until to-day);the second may be seen to apply to cosmic phenomena.
Su Shi(1036-1101)(zi Zizhan,hao Dongpo) was a great Song wenren (man of letters).Besides being a calligrapher-painter and a poet,he was a very important
 statesman who believed above all in humanism in the total sense of the word:man possesses in himself rectitude and should alone find the Way(Dao),with no external
imposition of a conduct:he abhorred any authoritarianism.He was a profound thinker:at the heart of his belief was the organist,holist feeling-wen yi guan Dao:
 "ideography and art embrace the Dao":this synthesis resumes his view on Aesthetics.Primacy is given to the universe of WEN-Ideography- from which everything
arises in Chinese Civilization;everything is consequence of the idea.Coherent with the Chinese fundamental Thought as a whole Su Shi believed that,behind the scene of all
beings and things,there exists a Constant Reason or Principle (Chang Li),which conducts(zhu chi) and and portions out(fenji) the Infinite Vital Breadth(Qi) in specified
manifestations, which thereby receive a form (xing).In 1083 Su Shi took a boat travel with friends in order to visit the Red Cliff,where a decisive battle had taken place
in 208,which had eventually led to the division of China.The result was a long calligraphic scroll in rhyming prose-the "Former Ode on the Red Cliff"(qian chi bi fu)-
which reveals the core of Su's thought:"(...)if you look at things as changing,then Heaven and Earth  cannot last for the blink of an eye;if you look at things as unchanging,
then I along with everything am never-ending(...)(gai jiang zi qi bian zhe er guan zhi,ze tian di ceng bu neng yi yi shun;zi qi bu bian zhe er guan zhi,ze wu yu wo jie
wu jin ye)".
For Su Shi therefore,the manifested world is made of fugitive images within a cosmic scene process co-ordinated by transformations and mutations,but
"he who knows the ways which take  these transformations and mutations will (also) know how the Subtle Spirit acts in them (zhi bian hua zhi dao zhe,qi zhi Shen zhi suo
wei hu)"(Yijing,Xici,I,9). So for Su Shi there is a sense behind the "myriad of things"(wanwu) in the world-a Reason(LI)- and this epitomizes the Chinese belief as a whole.    
What matters in Chinese art,in a last analysis,is the transmission of the movement of life perceived everywhere:in the 6th century Xie He established"Six Principles"
 concerning painting:utmost was:"attunement with the Infinite Vital Breadth creates the Movement of Life"-Qi yun Sheng Dong".Having captured this message ,an artist
 can express it through any means:a poem,a painting...the illiterate potter,through ceramics.

Buddhism made an early appearance in China already in the 1st century(c.e.).But it took many centuries for this Indian doctrine to adapt itself to Chinese
psychology and really function and expand.Contact with Daoism resulted in the Dhyâna(Chin.Chan,Jap.Zen) School of Buddhism.Legend has it to have been created in
China by Bodhidharma in the 6th. century.No matter the Daoist influence,Buddhism could never abandon its nihilist background :the ultimate sense of things is their
absence of sense.In his moment of Enlightment(Bodhi) Siddharta Gautama,the founder of Buddhism,de-constructed manifested life:for Buddhism sees the world as an
result of   serie of existences only created by a  cause-effect(hetuphala)mecanism which connects(nidana) instantaneous fulgurations called dharma(s)and arise
quasi-dead;they persist only by this connexion fed by desire(kama) and thirst(trsna)for the mundane.Having conquered these,he no longer was chained to transmigration
(samsâra) and is considered to have reached nirvâna(nir-VA:"to cease to breathe"=extinction).Act (karman) would,for him,no longer be a burden,for not bearing fruit.
He became hence  Shakya-muni:the"Silent One of the Shakya Clan",for he understood that his experience was intrinsic and discreet.
Due to the very nature of the doctrine,Buddhist-inspired Chan painting understandbly presented a "(...)translucent image,which tends to fade away in the
glittering of the drops of water(...)"(Nicole Vandier-Nicolas).Fugitive,fleeing moments,destined to disparition,like the scroll "Sparrows on Bamboo in the Rain",in the
Nezu Collection,attributed to 13th-century Mu Qi,in which scattered dots of pale ink around the bamboo leaves suggest the illusionof rain(Little,S.,article in
"Orientations",May,2014).A subdued creation of de-construction.For Buddhism the world-a mere mosaic of inconsistent aggregates-is mirage(marîci) and magic
(mâyâ=illusion).Compassion(karuna) remains for the beings,submited to the enslavement of illusion:the Buddhist Saint (Bodhisattva) shows iconographically,in Buddhist
art,a radical endurance concerning the impermanence of the dharma(s) which reveals a "sweet and tender thought"(mrdutarunacittatâ) in face of ignorance.
It is finally Dharmaksânti:radical patience concerning the illusion of the permanence of anything.
For the Chinese Classical Thought such a reasoning means deviation(xie);the cardinal notions of the Infinite Vital Breadth (Qi) and the Reason of Things
(Li) prevent nihilism.In place of  de-construction in a
 cosmic apocalypse,one has never-ending construction through the process of mutations(yi).And Art
mirrors this:Emperor Song Huizong wrote in his catalogue,the Xuanhe Huapu:"(...)when one enters the wonderful,one knows not whether Art is Dao or Dao is Art(jin
hu miao,ze bu zhi Yi zhi wei Dao,Dao zhi wei Yi)."Mo luo ke xun"-"the continuity of the veins and arteries can(always) be searched",say the Chinese.And the Yijing
(the Book of Mutations),foundation-stone of the Chinese Thought:"he who knows the Way of the transformations-mutations will also know how the Subtle Spirit acts"
(zhi bian hua zhi Dao zhe,qi zhi Shen zhi suo wéi hu-Xici,I,9).Finally:"Advent following advent is what is called mutation"(sheng sheng zhi wei yi-Xici,I,5).
Dao is a self-contained process always going from extreme subtlety to overwhelming majesty-in fact from invisible virtuality to actuality.From rarified Infinite
Vital Breadth(Qi) to mature condensation of form (xing)-then a return to no-form,just to re-start the whole construction.One might interpret-visually,in terms of the
 the art of ceramics,from the ethereal characteristics of Ru to the explosion of Jun...When it comes to Art in China,one should be allowed to endlessly elaborate
 on the basis of the well-established doctrine of a  Substratum(Ti) and a Function(Yong) governed by an intrinsic Reason of Things(Li) which acts(xing) together the Infinite Vital
Vital Breadth(Qi).The Yijing is book which aims at unveiling the mysteries of the Way(Dao) from the seed (ji) to the tree. The Way conducting the process of all
Life.From the infinitesimal(wei) to Infinity(wuji),one is boldly tempted to say.And the attempt here would be "to investigate what of the Wonderful it is possible to
attain through the infinitesimal essence(yanjiu jingwei suo de zhi miao),as Emperor Huizong wrote in His remarkable "Talks on Tea"(of the Daguan era)Daguan Chalun
or, more properly saying,Sheng Song Chalun(1107-10)("Sacred Wise Talks on Tea"-by the Emperor).
Mere beauty is for the Chinese adornment.One must have accession,through meditation (chan-zen), to the deep layers (li) where lies the Reason (LI) inherent
to Beauty.And then the outward manifestation(biao) will be coherent.For this Su Shi wrote about his friend,the great poet-calligrapher Huang Tingjian:"(...)he has
transcended the beauty which comes from dust and established only the outer manifestation (which corresponds to the inner reality)of the myriad of things-chao
yi yan chan;du li wanwu zhi biao(...)"Li-what lies within-in conjunction with biao-what is visible without-corresponds to the Reason of things-LI- in the conduction
of the Infinite Vital Breadth(Qi)...Marcel Granet's great maxim:"le Tao (...)est actif(...)rayonne inlassablement une sorte de vacuité continue".Shortly,diamond
radiance.Ti and Yong in perfect union(he bi).


The Song dynasty(960-1279)has  represented the paramount moment of Civilization in China;but for the barbarian invasions which have overshadowed
(but not destroyed) it,Song radiance would be more evident in our world to-day than it is.For Song splendour has never ended;it has taken more subdued colours due
 to great ignorance,this real illness that inflicts mankind.When one considers the ceramic art of the Song,two angles are to be noted:that of the seemingly undecorated
wares,in which purity of form,depth of lustre and colour,subtlety of glaze-Ru,Longquan,Guan,Ge-are essential,and decorated-so to speak- objects,like Jun,in which
there are abstract designs.
A hue governs the glaze chromatic scale of the ceramic ware that has become known as Céladon,in the West:a predominantly greenish-blue or
bluish-green tint derived from iron oxides,but which can appear in opaque buff , beige,olive or even serge tones,depending on the reduction or not of oxygen in
the kiln during firing,blue being the result of reduction and greenish yellow,that of oxidation.But a mysterious tonal green-blue in-between seems to be the result
in the best pieces;even when it turns to be greysh or buff,a blush of greenish-blue always persists.This hue is called QING by the Chinese.It is the colour of
the East,according to the Shuo Wen Jie Zi-where the sun rises and Spring starts.The classical definition is by Xunzi,a 3rd-century b.c.e. thinker:"(...) one seizes
qing in the blue,but it acts more as colour than blue itself(...)"-qing,qu zhi yu lan er qing yu lan.Lan-blue- would thus be statical,whereas greenish- blue qing would
be its dynamic pair.Céladon is just a practical inconsequential expression,coined in Europe in the 17th century because of of the colour of the garments of a character in
  a play then in vogue based on the novel "l'Astrée",by Honoré d'Urfé.In Chinese,the ideogram combines the elements "life"(sheng) and "cinnabar"(dan)(=red,the colour of
blood,which of course is the essence of life).And the everlasting mysterious tonal green-blue can only  be perceived by the mind in alterated states:enlightment or
supra-consciousness:Shiva's third eye:prajñacaksus.
Texture was another constituting essentiality of Song ceramics.It is defined by the expression ZIRUN.It is rarely shining or lustrous;rather it is a dense glaze
opalescent in many case(specially in Jun),that is seen.Zirun glazes look and feel unctuous:their greasy surface evokes life and the need of contact:the radical of the charac
ters is "water",the richness of humid environments.Touch the zirun glaze and your hand will be the vehicle of rapture(samâdhi):"sanmei shou"-"handly (conducting)
Samâdhi",as Su Shi wrote in a poem about tea and Song tea ware.
In a personal letter to the present author Nicole Vandier-Nicolas wrote:"(...)a circle is difficult to complete(by hand).But in the centre of the circle
lies the'heart's(xin)marvelled  glance -very demanding,very exacting glance;notwithstanding,light into the minutest details(...)"So with ceramics in China.After centuriesall is
 there;after centuriesof experience,the Song era saw an apogee. To this day, acme for mankind.After generations Tradition was consolidated:in China the notion of "experie
nce" (jingyàn)

has a collective connotation.It refers to the "examination"(yàn) of the(links)in the "chain"(jing)(established by one's predecessors),be they one's teachers or colleagues or
the Masters in the tradition that one follows.A collective acquisition thus.In the case of ceramics,in the early days,a practice without texts,as the potter had no
intellectual background,only the knowledge transmitted by the likewise uncultured forefathers."The Unknown Craftsman",as is called the Bernhard Leach's English
adaptation of Sôetsu Yanagi's book.
Ruyao was manufactured in a kiln the location of which was discovered at Qingliangsi Village,Daying Town,Baofeng County,Henan Province in 1986.
According to the Chinese expert Chen Wanli the fabrication of Ruyao would have started in 1086.In 1107 Emperor Huizong would have started to patronize its
production for the Court in Bianliang (Kaifeng).So until 1106 Ru would have been a minyao(unofficial ware);from 1107 onward Ru would have become guanyao (Imperial
ware).A special guanyao produced in Bianliang has so far-to our knowledge- not been archaeologically proved,due to the
 frequent floods there during the centuries.
With Ru starts the consolidation of a Chinese holistic psyche manifesting itself in the ceramic sphere.In this domain it represents the mentality so aptly
described by Su Shi about his friend Huang Tingjian: biao(manifestation) in harmony with li(virtuality).In the "bubbling surface" of the unconscious mind arises an
an "archetypical form" present there from the dark depths of the ages:the "music of the spheres" referred to by Kandinsky (cf. Sir Herbert Read-Athens,1960).Qing-
bluish-green or greenish-blue),the colour of ether;zirun,the texture of viscous plasma of omnipresent sempiternal Qi;the fissures of "craquelé",lines which are the wen
 of future manifested symbols as yet immersed in virtuality...Form:the presence of a quasi-absence...all is there in the ceramic support.The glory of multi-splendour!
Nothing of this would have been possible without the communal mentality described above.Experience is collective and this from the very beginning in China:
the Liji ("Record of the Rites") already states:Tianxia wéi gong-"Under Heaven all is communal!"
Accordingly,the manufacture of Ruyao has started to consolidate a praxis rooted in a communal experience coming from generations of Chinese potters and-
regarding the effects of crackle-which are called wen(written modernly with the radical of "silk").During nine hundred odd years crackle-virtuality showing the sign
sign of pre-destined Order,for being lines in the shape of crab' s claw(xiezhao) or fish-roes(yuzi):gossamer-like lines,similar to the webs of small spiders,they show
the coherence of natural creations in the process of cosmic gauzes.These lines-wen-represent "nuclei of form and structure"(H.Read)which float in the greenish-blue
scenario evocative of atmospheric ether and they adjust themselves from one border of a bowl to the other,for instance,but also in different ceramic pieces ,even
in pieces manufactured in different times,in different dynasties.If a ware be superposed to another,there will always occur total adjustment of lines,invariably showing
lines like a crab's claw(or fish-roes),which characterize Song céladons or qingciyao.Technique alone cannot explain this.One may speculate it to be the expression of
 an ARCHETYPICAL FORM reflecting(ying)-like a mirror-the unconscious mind of the Chinese,linked from the dawn of their Civilization,to the spontaneous Reality
of Life,to Image(Xiang),not to the illusion of imagination."To encounter the Dao,approach objects(yu Dao ji qi)",wrote Wang Fuzhi,meaning that through
the visible one captures(qu) the invisible(F.Jullien).In this line of  thought Chinese aesthetics concentrate on the leit-motif of transition: all things are in constant
(chang) change-in paintings it is a vague horizon immersed in mist,which also dominates va thlleys,in calligraphy the "flying-white'fei bo)leaves blanks between
traces;in ceramics we might interpret crackle as the virtual lines of future actualizations,all immersed in bluish-green ether.So Ruyao would epitomize a landscape
of transition translated into ceramics,a flash of the Chinese unconscious mind,an archetypical nucleus therefrom...
One may surmise that such a degree of refinement in the manufacture of céladonswas made possible by the general spiritual atmosphere prevailing in
the Song dynasty,specially during the enlightened reign of Emperor Huizong,who ruled  away from barbarity and wished for China an era of Peace and Illumination...

Again it has been communal and the result of accumulated experience,crowned by the Emperor's atavic sophistication.All the great minds of China's past were also
part of the enlightened era,through this accumulated experience-and how inconsistent would differences prove in face of the calamity of 1126/7!

Ruyao could thus be viewed as a kind of prototype of a new phase in the manufacture of céladons-when this branch of ceramic art became more than the
mere trial to express the qualities of jade-as céladon had been from its roots in the Shang dynasty-now it was cosmic.And this vocation persisted
the centuries ahead.As has been explained aesthetic theories concerning ceramics were absent,due to the manual side of this art:it was anonymous and the work
of uncultured poor people,whose inspiration had its roots in ancestral experience accumulated in the medulla of a monolithic Civilization consubstantiated TI,the
Essence of this cultural organism of China.External influences did exist-China was not immune to importation-but its has been on the level of YONG:"function",
 ideas and techniques which have been developed according to TI-so always "renovation";never "revolution".As Jingdezhen became a great center for porcelain
manufacture during the mid  Ming dynasty(circa 1500,as shown in burials) and the Qing period,expansion brought about evolution of ideas.In the 18th century
Tang Ying(2nd. quarter of the century) was appointed director of Jingdezhen.
He was a scholar,whose literary collection is called "Words from a potter's heart"(Taoren xin yu) and he has left a text that provides us with a magnificent intellectual
background for the ceramic art of China.The compact text is a ratification of the cosmic,holistic perspective of Chinese Thought as a whole:
"To work(gong),one must first knead the clay(shenzhi) that comes from forests and sources. As form one does not go beyond those of the zun and lei vases;
one equally duplicates those of the yi and ding(vessels).Furnace smoke brightens the colours;even a lump of terra cota(wafou) partakes(can)of the might of the bellows
(tuoyue).The colour-brush gives birth to flowers:porcelain allows to examine the Images(xiang)of Civilization(wen ming)".
"Shenzhi"-"knead the clay"-and "tuoyue"-"the bellows"- are expressions from Laozi(chapters 11 and 5).They place the manufacture of ceramics in the
perspective of universalism:the clay is the Yin element,the earth component-"forests and sources";tuoyue" is not any bellows,but a metaphor for cosmic might
-the eternal evolutions within the space between heaven and earth:the power of Shiva,if one thinks in Indian terms.And the potter's work is linked to that of
the metallurgist,thus reminding us the two phases in human Civilization:that of pottery ineolithic cultures and of bronze in more advanced ages.The expressions
"taoye" and "taozhu",still used in the language,refer to both these stages.For Tang Ying the art of the potter and that of the metallurgist are in conjonctio-marriage-
in the great symbolism which describes the architecture of Civilization.
Likewise the universe is capable of transmitting a message of life everywhere present,also in the reminiscence of the unconscious mind,for reminiscence,
far from being a "vulgar memory"(G.Durand),is,on the contrary,"imagination épiphanique"(ib.).So "all things,between Heaven and Earth,possess a sort of vital idea


(sheng yi) which is the wonderful (miao) aspect of formation-transformation(zao hua)-ever changing- like(bo ru),ever dispersing-like(dàng ru),it cannot be described
in forms"(Zhu Yunming).The "forests and the sources"transmit this vital idea but also does the cosmic "bellows"which is the great Might of the universe...The enlightened
mind of the intelligentsia captures it in painting and calligraphy,but so does also the enlightened uncultured  mind of the potter,which has absorbed it in the unity of
the holistic symbolic Chinese Civilization ,through an unbroken ancestral experience...Jun=Balance=Equilibrium.Thus,mind in Peace.The Transparency seen in the pure
moments of dawn (zhao che),when the world is virgin.The EPIPHANIC IMAGE:cosmic Shiva-lingam.For acceptance of the cosmic process-a "state of continuous creation
and destruction"(H.Read)- It is true serenity and such was the secret also of the uncultured ceramist for  the spontaneity of his unadulterated and magnificent spirit which
transmigrates adequately and wonderfully into things(miao yi yu wu you yi)"(Dong You(12th.century).According to the Vimalakîrtinidersa a Buddha'sLiberation itself
occurs in the   first movement of conscience(cittapûrvacarita), in its  only unadulterated moment of perfect freedom.Zhao che-the Transparency of Dawn.
In our world,inherited from the Greeks,form may be viewed as an archetype which is given by the naked body,model idealized as perfect.But in China forms
are transitory-everything is submitted to formation-transformation(zao-hua) in the process of life.Under such an angle a definitive model for Beaury-the naked body-
would be impossible.No Venus,no Heracles,no Zeus,as eternal mutation prevents any fixed   eternal model of form.It is thus understandable that the archetypical form
should be the ever-changing,ever-dispersing explosions of the cosmic process-line pre-destining ways(dao) ,stains and blots,not the  idealized model of the human body.
An "indeterminate shape(...)more or less complex(...)which appeals"(H.Read).EPIPHANY.But only of amorphous shapes and lines of virtuality.Distillation,one might evoke.
This view of the world,as based on cosmic Truth,transmitted by the the thought prevailing in the East,leads to Beauty:the Transparency of Dawn,image of
Reality,not imagination of Reality fostered by the illusion advanced by vicious creeds.Science with Conscience is its consequence:"(...)plus que jamais nous ressentons
qu'une science sans conscience,c'est-à-dire sans affirmation mythique d'une Espérance marquerait le déclin définitif de nos civilisations(...)"(Gilbert Durand).For,
behind a myth there is always an Idea;its reading reveals Truth,like a sonorous conch which reveals the pristine,primaeval sound of the sea. Vibration of OM.
It is this Conscience behind the science of the manufacture of ceramics in the East that should disclose Beauty which reveals Truth.Spontaneous Beauty.Ziran
and Zhen.The Chinese ideaogram for Zhen-Truth- shows the alchemy in the transmutation of the human mind from the obscurantism of delusive creeds to the
illumination of macrocosmic Truth brought the microosmic level within the holistic process of Reality."Les tentatives de démystification de l'illusion religieuse d'un
Feuerbach,d'un Nietzche ou d'un Freud se trouvent alors sans objet en présence de l'Absolu transpersonnel du Non-dualisme,à la fois radicalement immanent et trans-
cendant à sa 'manifestation'(...)
"Céladon"is but an incongruous-albeit practical-denomination for a colour-a hue-the name of which,in Chinese,responds to a totally different ideology-rather-
concept.QING is "the colour of Nature",as the Mathew's Chinese-English Dictionary translates it.It is a "neutral tint" which can apply to "green,blue,black",not only
to bluish-green or greenish-blue.The final result is given by chemistry:the  percentage of iron content added to the glaze AND the prevailing :conditions
inside the kiln at the moment of firing:reduction of oxygen tending to blue-green tones,ampleness of oxygen,on the contrary,to oxidation,leaving olive,golden or
blackish hues.Céladons  all owe their colour to iron content of the glaze:in bluish-green ones it means one to three per cent-"the yellower tones are given by ferric
oxide and the bluer by ferrous oxide"(Gompertz,G."Chinese Celadon Wares").But Song black wares glazes also result from iron content:six per cent,applied over an iron-
rich slip.In oxidizing conditions during firing-with therefore ample supply of oxygen-the result in the end was a very dark hue.Deep outer space.
It should always be kept in mind thatiron is a cosmic primaeval,pristine element,also a component of the human blood,which of course is the chief support of Life.
In an holistic Civilization,such as China's,this should not be seen as irrelevant.Reducing oxigen in the kiln during firing will bring about blue-
like that of the Summer skies- or green,like Spring vegetation,or the shores of tropical seas.Nature trans a fabricposition.
It might not be too far-fetched to say a word about the etimology of the ideogram for the colour Qing:it is a logical aggregate (hui yi) composed of two
elements:sheng(life) and dan(cinnabar-red mercuric sulphide,which in China,in Daoist alchemy,is considered to be a drug for attaining immortality).The vermilion
colour of cinnabar naturally evokes blood-a sacrificial animal used in a ritual to promote Spring and the growing forces of life after Winter,which in Northern China
is extremely severe and represents the closure of the earth(Karlgren,B.:"Grammata Serica Recensa",entry 812). Proto-greenish stoneware is attested already in the
Shang-Yin dynasty(3rd.millenary) and its aim was to imitate jade,used in the Neolithic Culture of Hongshan in fertility rites(the so-called pig-dragon-zhulong),in
this society,is represented in foetal position).
Moreover a recent experiment(1994) conducted for the present author,in Paris,by Hervé Moskovakis(Elypse Engineering),utilising a process called"electro-
graphy",has demostrated that jade does transmit positive energy,shown by coloured zones when the stone is carved(report of  the experiment published in "Oriental
Art",v.XLVII no. 1,2001).
Man participates in the cosmic process in full liberty and consciousness through his cognitive faculty:SHENHUI:the recognition (hui) of the Subtle Spirit
(Shen) everywhere-holos.There is no Truth which is not holistic.This is cheng,cardinal Virtue of Sincerity: to attain(de) its vital Idea(sheng yi) one must clarify -render
transparent- the source of things(xu ming wu zhi yuan).For,according to the Yijing,in the emergence of things lies the "heart of the universe"(hexagram 24:"fu,qi jian
tiandi zhi xin hu")."(...)ce stade de l'émergence,compris comme retour,est précisément ce moment crucial où l'invisible se relie au visible(et)...se déchiffre(...) comme
une simple transition(du patent au latent)(...)aussi,ce stade de l'émergence est-il celui où la logique à l'oeuvre ne s'aperçoit pas seulement de façon ponctuelle,en se
limitant au moment concerné,mais se laisse appréhender globalement(...)celui où le processus s'explicite en entier(...)on accède à ce qui en est le coeur(...)plus que
tout autre au sein de la série des hexagrammes,celui-ci offre un biais pour accéder à l'invisible;il nous ouvre une brèche sur le mystère de l'immanence(...)"(F.Jullien:
"Figures de l'Immanence"pg.167).
We are stardust,so science now teaches us:in the unconscious layers of the mind lies with certainty this knowledge;through an art which is pure,virgin
and therefore spontaneous(ziran= by itself so)it emerges as manifestation.


JUNYAO

Evolution.Cosmic evolution.
Tianji "(...)c'est la spontanéité créatrice sous son aspect moteur,c'est la prédisposition instinctive qui  pousse  à l'acte chaque être
selon son mouvement propre(...)au chapitre 14(du Zhuangzi)dans la section consacrée  à la danse Xianchi,exécutée par Huandi sur
le lac de Dongting,Tianji désigne l'énergie créatrice,concentrée à l'origine des temps,avant que ne se déclenche le processus du
devenir(...)"(Nicole Vandier-Nicolas:"Art et Sagesse en Chine"pg 185).
Tianji:the Spring of Heaven;the Natural Impetus.


"I have searched Spring,but it was long gone;
One must not be distressed or feel grief for the time of perfume, which is gone;
A furious wind has caused all the deep-red flowers to fall;
The green leaves have become somber
But fruits cover the branches"...
Du Mu(Tang dynasty-guiwei year-803)

"The universe becomes a unique gongan"-apparent Chan(Zen) puzzle the shoking incongruity of which may lead to Enlightment,
wrote Nicole Vandier-Nicolas.It is the "Great Image"(Da Xiang)(Laozi-chap.14),which is the Form of Indetermination"(wu zhuang
zhi zhuang).Being stardust we carry it buried in the depths of our mind.




        The world of Junyao is one of explosion,"infinite explosion of matter,a state of continuous creation and destruction,within which,however,we discover
 nuclei of form and structure,constellations and finite worlds"(...)"out of the seething cauldron of psychic particles"(H.Read) R
the Genesis is recreated.It is YINYUN,the"intermingling of the influences of Heaven and Earth"(Yijing II,5),from which "the myriad of things transform abundantly' '
(wanwu hua shun).Yin-Yun refers to an original state of things prior to any repartition( Shi Tao:bu fen shi wei huntun- a turbid void-plasma- within which however
all virtuality (neng shi-"possible things")lies,as this dynamic void is pervaded by QI-the Infinite Vital Breadth,in which all things and beings inchoate. Science has now
taugh us that our solar system was formed from previous galaxies which had come to an end and having become stardust gave birth to a new cosmic formation.
"The type of artist we are considering may be searching for(...) forms behind the veil of consciousness,for forms irrespective of any representational
significance,that can be teased out of the seething cauldron of psychic particles(...)such forms need not be figurative;they are more likely to be amorphous,gestaltlos.
The deeper we penetrate the cloud of unknowing,by contemplation or intuition,the less likely we are to find the shapes and images of our waking world(...) we enter
what Anton Ehrenzweig has called a 'Gestalt-free matrix of forms',a matrix within which the shapes are as yet unformed,and only acquire form and significance as
the inchoate primary substance coagulates(...) such forms,when found,are potent(...)to explain this power the word 'magic' has been evoked(...)I prefer to resort to
Jung's hypothesis of an archetypal form(...)" Sir Herbert Read in Athens in 1960 was refering to modern abstract painting.In 2015 why not use his enlightened
words to apply to a new theory on Chinese ceramics,when they fit so well to Junyao? Even more so in our modern world,after the Mingei (Minyi)movement of early
20th century,led by Bernard Leach,Sôetsu Yanagi and Shôji Hamada,among others,which identified Truth with an inborn,natural and spontaneous Beauty created by
uncultured potters-a spiritual Beauty the fundamental principle of which Yanagi also saw expressed in the anonymous crafts of the  Song dynasty...

The Way (Dao) opens up to an Absolute perpective.It transcends both limited space and precise time.It is far-reaching(you) and long-enduring(jiu)
as said in the Zhong Yong(XXVI).Being so these qualities bear witness(zheng) of the validity of the Process which governs the Cosmos,from the Big Bang up to now.
Even prior-how many Big Bangs have we experienced?
                               
From the Chinese viewpoint Truth is what matters;in fact cosmic Reality,which would thus correspond to Correctness (zheng) lato sensu.As said in the
5th century WENXIN DIAOLONG,by Liu Xie,about the Confucian Classics(Jing) viewed as "global and totalizing"(F.Jullien):"(...)they are the Image of the Universe
(xiang tiandi)(...)"In the 21st century abstract art,as manifestation of the unconscious mind,can(or should) lead to interpretations hitherto not possible; as
"gestaltlos,amorphous... shapes and images"(H.Read),they would represent penetrations into the "Cloud of Knowing" behind the "Veil of Consciousness"(ib.)
-following such a way(dao)should thus be feasible for the undestanding of Jun ceramics in our day.

Even before  the full blooming of modern art theories,in 1915 R.L. Hobson,the English expert,wrote that "(...) it would be possible to construct a formidable
list of the colours which appear in the Chün (sic=Jun) glazes(...)on the edges and salient parts where the glaze is thin the colour is usually a transparent olive green
 which passes with the thickening of the glaze into a frothy grey shot with fine purple streaks(...) the grey sometimes remains thick and opaque,covering large areas
and it is liable to become frosted over with a dull film of crab-shell green(...)it is in this frosting and in the opaque curded grey that the V-shaped and serpentine
partings known as 'earthworms marks' most frequently occur;and sometimes a steel blue colour emerges in these partings and in small spots in the grey(...)for
under  the grey there seems to be always blue and red struggling upwards towards the surface(...)hence the blue and lavender tinge which is so constant(...) but
it is the red which almost always triumph,emerging in fine streaks of purple,crimson or coral(...)completely overpowering the grey,which only remains on sufferance
ina few fleecy clouds(...)"
Explosions.Cosmic explosions,as we know that the Universe has experienced in its very long existence.
Jun wares are unique creations.Every piece on its own,although Tradition is behind. Hobson was most probably describing one of the so-called "numbered
Jun"(they carry a number on their base-one to ten) and are believed to be later wares,manufactured during the early Ming dynasty(15th century) in order,perhaps,to supply
the newly-built palaces needed when Peking wa s declared primary capital of the Empire in 1421.The numbers would refer to sizes concerning flowerpots used in the
Imperial precints.The violet and purple splashed effects are now magnificently widely displayed,"covering large areas",but they all stem from the addition of a copper
solution to the iron glaze,which had always reflected the Jun Tradition of earlier manufacture(the splashes were then more restricted in area-abstract purple blots
 or spots,"cloudlike and unpent".James C.Y.Watt has suggested that this kind of purple splash would represent"the popular imagery of purple mists and clouds that
emanate from Daoist deities(...)Daoism was very much in the ascendant during the reign of (Emperor)Huizong".In fact,the Guan Yinzi,an apocryphal text-but certainly
reflecting a former original( by Yinxi?),
the guardian of the pass who would have received Laozi when he left China for the West by the Pass of Xiangu- now possibly identified with the site of Louguantai,
70 km from Xi'an-states that ,prior to Laozi's arrival,Yinxi  "had observed that violet clouds of Energy were seen floating over the Pass"(jian you zi qi fou guan) .
Nevertheless,nowadays,would it no be possible to identify these "violet clouds of Energy"(zi qi) with the cosmic explosions kept hidden by "the veil of
consciousness","the forms irrespective of any representational significance"(H.Read) but evoking our condition of stardust? "The infinite explosion of matter"(idem)?
As the Chinese themselves say:"flashes of spiritual light that suddenly emerge"(ling guan zha xian),also present in dreams or in altered states:"Le sommeil des
puissances,souvent décrit par les mystiques,est un état d'intériorisation totale qui soustrait l'esprit à la dispersion de la vie sensorielle,et le laisse libre de s'unir
au Total indéterminé(...)son pouvoir de participation"(N.V.Nicolas)-such a thought is evocative ,even provocative, and would make one think of the fugitive moments
of Enlightment in Buddhism-the flash of satori...

For being based on REALITY,not on speculation(conjectural opinion)-and for being holistic-the universe of Chinese aesthetics represents unsurpassed
lasting theandories valid to our days and overflowing considerations that encompass the whole of Art.In the 11th century Shen Gua(1030-1098)was a brilliant scholar:let
us brood over whar he said on the arts of the brush.
"when the creative idea is guided by the dynamism of the Subtle Spirit(shen ling yi zao), there will appear,in addition,the images of men,beasts,plants and
trees,of flying and terrestrial creatures in their instanteinity.They will fully(liaoran)appear before the eye;the brush will then be commanded according to the creative idea
(sui yi ming bi);in silence (mo)and by intuitive knowledge of the Subtle Spirit(yi shen hui)the scenario will be naturally(tian)( depicted).That is what one calls a living
brush ,and to enter the realm of full understanding of painting(huo bi yong zhi,zi ci hua ge jin)( we should remember that the first meaning of "ge" is that of a large
tree which extends far its branches;hence "thoroughly to investigate" in figurative meaning).
Mutatis mutandi the text above could apply to all the arts of China;verily to all Art,in short.Now, in the West,one may see behind the"veil of consciousness",
"nuclei of form and structure",within "the cloud of unknowing",which one may penetrate by "contemplation and intuition"(ib.)...
Consider a Song Junyao bowl in my collection(formerly in thr collection of M.Calmann ,who offered it to Mme.Vandier-Nicolas in Paris)(cf."Anais-Museu
Histórico Nacional-volume 31,1999):cosmic virtuality is of course blue ether,but crossed by Y-shaped lines,which are predisposition of shapes,nuclei of images-
a fish (from the left) or a bird(from the right)?...
One might remember Kandinsky:he spoke "of the symphony of forms  that arises from the chaotic hubbub of cosmic elements which we call the MUSIC
OF THE SPHERES"(H.Read).


The barbarian Djurchèt occupation of Northern China in 1126/7 understandbly interrupted the manufacture of Ruyao,which was produced for the Emperor
in distress,taken to Manchuria as prisoner together with some 3000 members of His court.Some ceramic wares did continue to be produced in the captive North,
although the quality was lower.One Imperial scion,known later as Emperor Gaozong,managed to establish a new Capital in Lin'an in 1138.
,
The great ceramic  Tradition concerning the Qing-hued led composition glazed wares-the colour of which is inspired by Nature- persisted in the South.
As previously stated "experience" in China is a collective notion: jing yan-"to bear witness of a Tradition".Jing means originally "the warp of a fabric";it is complemental
to"wei",the "woof","that which woven on to the warp".Both ideograms have the radical of "silk"(si).In the Civilization which has created this cloth Tradition is compared
to weaving.In this process Substance(=stare sub)(zhi) and  ornament(its added beauty)(wen=yan) should be co-ordinate.Holos.Confucius ackowledged this (Lunyu,6)
regarding Ethics.In Aesthetics Sun Guoting(7th century) has consecrated the maxim:"when Elegance and Substance are in balance,we have the way of a gentleman"
(wen zhi bin bin,ran hou junzi).Applied specifically to calligraphy,its scope is holistic.
In the Architecture of the universe of Chinese ceramics,compared to that of an "Immense Cathedral" by the great French collector Michel Calmann,,
the anonymous potter has left a communal message.Having established their new Capital in Lin'an,the Song continued their manufacture of céladons.Historians
now believe that their kilns of Guan("Official") wares were located at Laohudong("Tiger Cave")on Fenghuang Hill(the Xiuneisi-"Palace Maintenance Office"-Guan type);
east of Laohudong,near the Fenghuang Pagoda,also on Fenghuang Hill,another kiln site(Wuguishan) was identified as having produced the Jiaotanxia("Under the Suburban
 Altar")type.Finds of the Yuan period strata in Laohudong have been identified as "Ge" ware.On the other hand many Guan and Ge type wares have been attributed to
kilns in the Longquan area,paste colour being one of their differences:red-colour in Longquan and dark or whitish hues in Laohudong. The Chinese tradition links
whitish paste to Xiuneisi:one very special censer in the Tôkyô National Museum (gift of Hirota Matsushige) has a body of whitish colour.